A banda dos irmãos Cavanagh tem sido presença assídua por terras lusitanas - ainda no verão passado, os Anathema espalharam o ar da sua graça pelo festival Vagos Open Air. Mas parece que os britânicos não conseguem passar muito tempo afastados deste pequeno país encostado ao Atlântico. E, como tal, decidiram incluir Portugal no roteiro da sua tour europeia de promoção a “Weather Systems”. O concerto de sexta-feira, no Hard Club, assinalou o reencontro.
Quem chegou com bastante antecedência teve a sorte de encontrar o guitarrista, Danny, que vagueava de um lado para o outro, pelo Hard Club, submerso pela música que estava a ouvir. Porém, ainda era cedo para o ver entrar em ação… Tão cedo, que nem os Astra tinham subido ao palco. Os norte-americanos, com uma sonoridade a fazer lembrar os anos 70, asseguraram a primeira parte do espetáculo. A sala 1 não estava bem preenchida, mas, à medida que os ponteiros do relógio avançavam, os espaços vazios foram-se evaporando.
Por volta das 22 horas, o jogo de luzes não deixava margens para dúvidas – os Anathema estavam prestes a começar a tocar. Avizinhava-se um concerto, no mínimo, memorável. Como seria de esperar, “Untouchable, part 1” introduziu oficialmente as hostes. O desabrochar suave das teclas preparou terreno para a segunda parte de “Untouchable”, que atingiu o seu clímax aquando da convergência harmoniosa das vozes de Vincent Cavanagh e Lee Douglas.
As paisagens das primeiras duas faixas de “Weather Systems” abriram o apetite para aquilo que seria uma autêntica viagem emocional. A banda continua a apostar em temas relativos ao aclamado “We’re Here Because We’re Here”. Não é de admirar, afinal este trabalho foi considerado o melhor álbum progressivo do ano, pela Classic Rock Magazine, em 2010. “Thin Air”, “Dreaming Light” e “Everything” fizeram ecoar pela sala a energia positiva que culminou na sua elaboração.
“Vamos tocar algum material antigo”, anunciava Vincent. De seguida, os primeiros acordes de “Deep” faziam antever uma mudança na conjuntura envolvente. Era um retorno à solidão do passado – rumo a 2001 – e “Judgement” era o destino. Seguiram-se “Emotional Winter” e “Wings of God”. A passagem por “A Simple Mistake” faz-nos avançar novamente no tempo. Quando chegou a hora do desfilar de “Lighting Song”, Vincent Cavanagh dedicou essa música ao casal, Lee e James Douglas. O palco era agora apenas e só de Lee - todas as atenções estavam centradas nela.
Foi evidente a boa relação com os fãs portugueses e os membros da banda não se cansaram de puxar, desde cedo, pela plateia. Danny Cavanagh e os seus companheiros primaram pela boa disposição e descontração. Aqui e acolá, Vincent ia pronunciando, com o seu tão caraterístico tom britânico, algumas palavras na Língua de Camões, talvez fruto da convivência com “Daniel Douglas Cardoso, um membro da família” – tal como referiu, durante o espetáculo.
Os Anathema pediram e o público aderiu: acenderam-se isqueiros, ergueram-se telemóveis, enfim, tudo o que desse luz foi exibido bem alto para acompanhar “A Natural Disaster”. Criou-se, assim, um efeito único, um momento intimista para mais tarde recordar. No final da sempre apetecível “Flying”, o grupo recolheu aos bastidores. Mas a audiência queria mais!
Fez-se ouvir “Internal Landscapes” - era o começo do encore. “One Last Goodbye”, “One Last Goodbye”, gritava-se… Os Anathema consentiram e, num ápice, os espetadores encheram os pulmões e cantaram em uníssono com Vincent – um exemplo de sinergia musical no seu estado mais puro. Passaram-se mais de duas horas, mas houve ainda tempo para a ebulição absoluta, que chegou com “Fragile Dreams”, levando toda gente ao rubro. O espetáculo terminou, desta forma, com chave de ouro.
“Todo o concerto dos Anathema é marcante”, afirmou um dos presentes, Francisco Quintas. “Só o facto de nos apercebermos que em cima do palco está uma banda com mais de 20 anos de carreira, que está frequentemente em tour e que, mesmo assim, enche todas as salas por onde passa, deixa-nos com aquela sensação de arrepio na espinha”, constatou.
Depois do Porto, os Anathema seguiram rumo à capital, onde atuaram pela décima vez no país.
Astra
Texto: Filipa Santos Sousa
Fotografias: Hugo Sousa
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