Não é qualquer banda que tem a moral de voltar para um segundo bis, na alta madrugada, sem que o público arrede o pé do local do show. O Teatro Mágico tem e pôs à prova toda a fidelidade da platéia na noite principal do Festival Fora do Eixo, sexta, no Circo Voador. O show – como se sabe – tem de tudo: perna de pau, monstros, capetas, bailarinos, pirata, malabares… Se até os integrantes sobem no palco fantasiados, e o líder do grupo – Fernando Anitelli – usa um figurino de palhaço/pierrô/bate bola, imaginem o resto. Até no meio do público se vê incautos com rosto maquiado e/ou usando roupas inspiradas na banda.
Isso, no entanto, é o de menos. O problema é que a banda (as músicas, o show) é ao mesmo tempo baseada numa ode declarada à poesia, salientando um conteúdo pseudo- intelectual cafona que transforma Anitelli num sério candidato ao prêmio de sujeito mais chato que já subiu num palco em todos os tempos. É o tipo de pessoa que responde a um “bom dia” explicando o porquê disso ou daquilo. Não é possível saber se é mais chato suas falas e brincadeiras ensaiadas para parecerem espontâneas (imita Michael Jackson, simula defeito em um PC, recebe um Ronaldinho vascaíno no palco) ou as músicas propriamente ditas.
O trabalho do Teatro Mágico não é só uma mistura bizarra de Los Hermanos/Cordel do Fogo Encantado/Gogol Bordello/Manu Chao. As músicas tocadas pelo grupo remetem sempre a outras já conhecidas do público, em geral de gosto questionável. É axé, é Luan Santana, é dancinha ensaiada com braços coreografados à Padre Marcelo, é Chico Science e DJ Dolores (citados de verdade), é reggae, é música regional, é coisa do capeta – que, aliás, aparece gigante numa das músicas. Só que o público não está nem aí. Descerebrado, representa a crescente massa dos que se dizem ecléticos e gostam de tudo, mas não se interessam por nada – porque sequer sabem do que se trata. É nessa farra dos ecléticos que o Teatro Mágico, com pretensiosa verve em decalque, encontra poderosa audiência.
O show é espécie de encerramento da turnê do segundo álbum, “Segundo Ato”, de 2008, e mostra algumas músicas novas, uma vez que o terceiro trabalho já está em fase de produção. No terceiro bis, vários convidados sobem ao palco. Harmônica, acordeom e saxofone são só alguns dos instrumentos genéricos que sustentam o que Anitelli chama de “tudo junto numa coisa só”. No final ele ainda desce no meio da plateia, num número de despedida. É uma forma de agradecimento a um público magnetizado pelo artista em todos os sentidos. A massa sem rumo, no fim das contas, é o que realça aos olhos na noite principal dessa edição do Fora Do Eixo RJ.
Entre as novidades, impossível não observar o som agradável do Maglore, a única banda da noite a apresentar boas músicas, algumas com refrões colantes que conquistaram parte o público; terceira a tocar, já encontrou muita gente. O pop rock dos caras é de pegar na primeira ouvida, sobretudo em músicas como “Todos os Amores São Iguais”, chiclete dos bons, e “Demodê”. É verdade que o quarteto sofre forte influência de Los Hermanos, sobretudo no jeito de Teago Oliveira cantar, mas a banda é nova e não deve padecer desse mal por muito tempo. A batida surf e suave de “Às Vezes Um Clichê” também colocou o público para cantar e dançar de imediato, e a meia hora reservada aos baianos pareceu pouquíssimo tempo.
Quem desperdiçou a chance de açambarcar o público da atração principal, foi o Tereza. Embora não tenha bom repertório, o grupo – banda de baile que é – costuma fazer bons shows, e tocou antes do Teatro Mágico. Mas, à exceção de seguidores concentrados num canto da plateia, que cantavam numa ou outra música, o show do grupo não conseguiu empolgar. No final, dada a impaciência do público, até algumas vaias se esboçaram, mas vale ressaltar que o grupo parece encontrar um rumo: se antes atirava para tudo que é lado, hoje parece fiel ao rock dos anos 00 à Strokes. Com certo atraso, mas tudo bem. Resta saber o porquê de a banda ser escalada em todos os eventos do Fora do Eixo no Rio.
O Gloom, de Goiânia, é uma espécie de antibanda que não sabe bem o que quer. Tem formação esquisita, de fanfarra, uma vocalista sem jeito e instrumentos secundários (trompete e saxofone) aparecendo mais que o necessário. Ou seja, não há boa música que resista a arranjos deveras estapafúrdios. O show teve a participação luxuosa de Gabriel Bubu, do Do Amor, em duas músicas, o que não ajudou a salvar a parada. Investindo num hard rock de raiz, o Mr, Jungle, de Roraima, poderia ter oferecido muito mais, caso o grupo tivesse boas composições. Boa parte dos riffs é ótima, a batida pesada contagia, mas o quarteto peca por falta de conteúdo. Tanto que muitas músicas remetem a clássicos do rock, como “Jumping Jack Flash”, dos Stones, e “Highway Star”, do Deep Purple, por exemplo. E o grupo enxertou a cover de “Back In Black”, do AC/DC para engrossar o repertório. Há muito o que fazer, mas a largada não chega a ser ruim.
Revelação: com boas composições e refrões colantes, o Maglore se destaca na noite principal do festival
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O Festival Fora do Eixo RJ continua no próximo final de semana, com shows no Rio, Niterói e Nova Friburgo. Clique aqui para ver a programação completa.
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