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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Wraygunn @ Hard Club: "L'Art Brut" e a conquista da primeira audição

Wraygunn @ Hard Club: "L'Art Brut" e a conquista da primeira audição:
Poucos mas bons – ou melhor, não tantos quantos seriam de esperar, ainda que a sala se tenha revelado mais composta do que afluência inicial tinha feito prever – rumaram ao Hard Club, numa noite onde não faltaram propostas na cidade do Porto, para o concerto de apresentação de “L'Art Brut”, o quinto longa-duração dos Wraygunn, que só agora, após um hiato de cinco anos, pôde ver a luz do dia... e da noite.
“L'Art Brut” vai roubar o nome à expressão utilizada por Jean Dubuffet para denominar a obra de quem se encontrava vedado ao circuito artístico, uma arte que evita catalogações, convencionalismos e museus, uma arte embrutecida, alheia a conformismos, menos depurada e mais gutural, que não exclui, mas abrange. Se o profissionalismo e a execução irrepreensível dos Wraygunn os colocam um pouco à margem deste conceito, a ele vão de encontro pela via da organicidade e genuinidade em palco, da inclusão de géneros e da mescla de variadas texturas sonoras num cunho muito próprio, apesar da indissociabilidade das referências.






Sob a alçada e a liderança de Paulo Furtado, os Wraygunn subiram ao palco para uma noite também ela incatalogável, cumpridora e de revelação do novo trabalho, lançado este ano.

O arranque fez-se em modo narrativo, com "Paulinho" (desde logo assim chamado por alguns elementos da audiência mais entusiasmados) no papel de contador de histórias, em spoken word, com Tales of Love. A este tema, faixa introdutória do disco em apresentação, seguiram-se as primeiras saudações às “senhoras e senhores” do público, advertidos, logo de seguida, que vinha aí um disco “a eito, ou quase”. Um quase feito de extras, visto que “L'Art Brut” foi tocado na íntegra e em concordância com a ordem de alinhamento do álbum.
Don't You Wanna Dance foi a pergunta que se seguiu, em forma de convite indireto a uns passinhos de dança, com uma adesão ainda comedida, ou talvez apenas atenta, dado que a maioria estaria a ouvir o disco pela primeira vez. Explosiva no soul exalado e na presença algo penetrante, Selma Uamusse introduziu Kerosene Honey, não menos inflamável.








O assédio do público cedo se tornou uma constante, assente em convites para jantar ou em vontades denunciadas em levarem o vocalista para casa, que gracejou “Tanto amor... amor é bom!”, ainda sem saber que esse amor se iria fazer sentir até ao fim da noite. Seguiu-se That Cigarette Keeps Burning, espécie de tango arábico, semi-alucinado, bastante improvável mas a fazer todo o sentido no contexto Wraygunn. Já I Bet It All For You marcou um pouco a diferença, de encontro a um rock 'n roll mais clássico, mais branco, com a identidade da banda a ser vincada através dos coros de Uamusse e Raquel Ralha.
My Secret Love assumiu-se como a deixa para que o público se chegasse um pouco mais à frente, a pedido, e enganasse um pouco os espaços vazios. Com uma aproximação gradual do microfone pelas duas cantoras, a intensificarem o fundo vocal de suporte a I Feer What's in Here, surgiu este relato intimista, com toques de visceralidade. Depois, foi a vez do protagonismo ser cedido a Raquel Ralha, no domínio sedutor de Track You Down.






Para a conclusão, ficaram I Wanna Go (Where The Grass Is Green), com a batida a promover a animação fora do palco, I'm For Real, uma “música que fala sobre fazer música”, a dar lugar a um despique de guitarras entre Paulo Furtado e Pedro Vidal, e o remate deixado a cargo de Cheree Cheree, um original dos Suicide.
Paulo Furtado despediu-se com um “até muito em breve”, que acabou por se traduzir num regresso mais que esperado e que, esgotado “L'Art Brut”, obrigou a revisitações muito bem-vindas de temas mais antigos. Com o sampler do discurso de Martin Luther King (“I Have a Dream”) a fazer-se soar enquanto que o público se juntava à banda, de punhos elevados no ar, não restou a dúvida da passagem por “Eclesiastes 1.11” (2004), através de Soul City.

“É o fim do mundo!”, gritou alguém em premonição do que estava por acontecer - e assim foi, com o mote lançado por Ain't Gonna Break My Soul, de “Soul Jam” (2001), a deixar o público, que já se havia deixado conquistar pelo novo disco, irrequieto.
“Alguém se lembra disto?”, perguntou Paulo Furtado, e a reposta não se fez demorar em forma de imitação à introdução de Drunk or Stoned. E o fim do mundo continuou, até ter mesmo acabado All Night Long, com a banda a misturar-se em palco e Furtado a deixar mostrar a vontade em saltar para o público - o que, invariavelmente, lá acabou por acontecer. Na falta do que trepar, subiu-se para um dos balcões/ bares laterais e fez-se do candeeiro microfone, para depois se voltar a descer e pôr o público a berrar o refrão, entre mais debitações do menu para jantar.






De volta ao palco, restou o culminar da apoteose e a apresentação dos colegas, com uma chamada de atenção isolada de Selma Uamusse para o “senhor Paulo Furtado”. Senhor, pois claro! A quem restar dúvida, que não se esqueça de marcar presença para a próxima.








Alinhamento:
Tales of Love

Dont You Wanna Dance

Kerosene Honey

Strolling Round My Hometown

That Cigarette Keeps Burning

I Bet It All On You

My Secret Love

I Fear What's In Here

Track You Down

I Wanna Go (Where the Grass Is Greener)

I'm For Real

Cheree Cheree
Soul City

Ain't Gonna Breal My Soul

Drunk or Stoned

All Night Long




























Texto: Ariana Ferreira
Fotografias: Filipa Oliveira

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Foto depois da festa.