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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Great White @ Paradise Garage: Vida nova no “gang dos tubarões”

Great White @ Paradise Garage: Vida nova no “gang dos tubarões”:
No ano em que celebram 30 anos de carreira, os Great White iniciaram, também, um novo capítulo das suas vidas. É sempre difícil para os fãs de longa data verem as suas bandas de eleição sem o vocalista original. Há ali uma relação de cumplicidade que se estabelece com a voz, com os trejeitos, com a personalidade do frontman que é difícil de ultrapassar. Ao fim e ao cabo, ele é a cara do projeto. Mas as bandas também têm o direito de avançar e retomar os seus trajetos, sem ficarem eternamente «penduradas» pelos problemas pessoais dos elementos que não conseguem organizar-se. Longa vida e muito sucesso ao Jack Russell – que, entretanto, fundou os seus Jack Russell’s Great White (uma moda que, infelizmente, está a pegar), e partiu em tour pelos Estados Unidos. Por cá, os fãs portugueses tiveram oportunidade, ontem à noite, de ver os Great White pela segunda vez, sempre sem Jack Russell, e a verdade é que a coisa resultou bem. Muito bem até.
Diga-se de passagem que Lisboa tem azar. Em 2010, na primeira visita a Portugal, Russell ainda estava na banda mas uma doença súbita resultou em internamento hospitalar e o vocalista foi substituído pelo saudoso Jani Lane, dos Warrant, entretanto falecido. A atuação de Lane na capital levantou muitas críticas e veio a saber-se que se encontrava com uma grande gripe e terá tido dificuldades em acabar o concerto. Em 2012, o novo reforço da equipa, Terry Ilous (o homem que afirma que nunca adoece) constipa-se na noite anterior ao concerto alfacinha e teme prejudicar a atuação em terras lusas. Falso alarme. O francês, filho de mãe francesa e pai espanhol, chamou a si toda a energia disponível e «abanou» a casa, ao lado do baixista Scott Snyder e dos veteranos Mark Kendall (guitarra), Michael Lardie (guitarra, teclas, voz, harmónica, e também produtor do último álbum) e Audie Desbrow (bateria).
Russell nunca atuou em Portugal, o que impossibilita comparações, e também não é o que se pretende aqui, mas dificilmente algum dos muitos fãs que desceram à Paradise Garage deu a sua noite de terça-feira por mal empregue. A banda mostrou-se coesa e com uma classe invejável, numa viagem ao longo dos pontos altos da carreira (e são muitos), e algumas incursões pelo novo álbum “Elation”, mas Terry Ilous, mesmo a água e chá durante toda a noite, roubou os holofotes e mostrou ser um mestre de cerimónias irrepreensível. Se ele canta e dança assim quando está doente...
Passavam 15 minutos das 22 horas quando o vocalista se juntou à banda em palco e abriu as hostilidades com um animado "Olá Lisboa!", que antecedeu “Desert Moon”, o tema de abertura que deixava adivinhar uma noite dançável e com sabor a blues. De seguida, o também vocalista dos XYZ e dono de uma voz inimitável (cedeu, também, a voz a muitas séries de animação, filmes e anúncios), leu a cábula que tinha preparado durante a tarde, entusiasmado com este recente despertar para a beleza da língua portuguesa, e arranhou um "Nós estamos muito contentes de estar aqui, amamos Lisboa e, especialmente, as mulheres!". E estavam feitas as apresentações. O público português aqueceu depressa e o clima de enamoramento que se estabeleceu entre o palco e a assistência escreveu a história da noite.
Falar de Great White é falar da essência do rock’n roll, é falar do groove dançável, divertido e sensual do blues rock sulista e da melancolia do deserto do interior dos Estados Unidos. Foi neste mix, com ritmos e paisagens muito diversos mas sempre intensos, que a noite se desenvolveu na Paradise Garage, um dos espaços mais acolhedores da Grande Lisboa, que já deixava saudades.
A «Lady Red Light» e «Down on Your Knees», com um solo ainda tímido de Kendall, seguiu-se o primeiro single de “Elation”, “(I’ve Got) Something for You”. De regresso aos clássicos, tempo para duas das baladas rock mais bonitas de sempre – “House of Broken Love” e “Save Your Love”. De regresso ao novo trabalho, “Lowdown” voltou a marcar o ritmo blues e desencadeou um momento de improviso coletivo, com Kendall a transportar-se (e a transportar-nos) para uma nova dimensão, numa espécie de jam session que o público acompanhou avidamente. Seria de esperar que se registasse aqui uma quebra na atenção, em especial, quando os músicos se dedicam a fazer solos longos e a demonstrar as suas capacidades técnicas num diálogo, muitas vezes, de músicos para músicos, mas nesta noite, o espetáculo cresceu, e continuou a crescer, até atingir aquele momento raro em que se transforma numa celebração quase familiar. Os músicos abordaram o público diretamente, conversaram, «roubaram» máquinas à plateia para fotografar os fãs, levaram fotógrafos ao palco e não se cansaram de elogiar o público português.
“Mista Bone”, “Big Goodbye” e um fantástico “Rock Me”, em grande apoteose, deixaram toda a gente a dançar e ligeiramente afónica. Para a reta final de uma noite que pareceu demasiado curta estavam reservadas “Can’t Shake It” e a incontornável “One Bitten Twice Shy”.
Ficaram por ouvir outros clássicos como “Call It Rock’n Roll”, “Face the Day” ou “Old Rose Motel”, mas uma carreira de 30 anos dificilmente poderia caber numa hora e meia. Ficou o apetite aberto para mais uma visita dos tubarões do rock’n roll, que passaram, ainda, muito tempo, a assinar autógrafos e a tirar as fotografias da praxe.
A digressão europeia acaba no domingo, na Alemanha, e logo depois os Great White regressam aos Estados Unidos, onde a tour continua em novembro. Terry Ilous, no entanto, vai ficar pela Europa mais uns dias, para atuar com os XYZ no Firefest, em Nottingham, ao lado de nomes como Danger Danger, Gotthard, Stage Dolls, Mitch Malloy ou Tyketto, que também passam por Lisboa, pela primeira vez, no dia 16.
A terminar, uma referência aos Fokker, a banda nacional que assegurou a primeira parte dos Great White. Ao longo de cerca de meia hora, os Fokker apresentaram-se ao público pela primeira vez e deram a conhecer alguns temas que deverão integrar o álbum de estreia, a lançar em 2013. O projeto do baixista Mário “Nuggy” Valente (ex-Paulo Gonzo, Nuggyland, Red Lizzard, etc.) já teve uma outra encarnação, no final dos anos 90, mas surge agora com Eddie na voz, D’Void na guitarra e Bifes na bateria. O quarteto apresentou-se seguro, embora prejudicado pelas condições do som, e destilou um hard rock pesado, quase industrial, em certos momentos, com uma postura moderna, a fazer lembrar uns Velvet Revolver. Um nome a acompanhar nos próximos tempos.
Liliana Nascimento

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Foto depois da festa.