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sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Ogre @ Ritz Clube: monstro insaciável...

Todos conhecemos Maria João, um dos ícones do jazz português, que geralmente surge associada a participações com o pianista Mário Laginha, com o qual já coleciona um considerável leque de álbuns e atuações ao vivo. Para além desta parceria de ouro, do jazz nacional, Maria João também encarna outros projetos, sendo um deles precisamente o sujeito desta reportagem, os Ogre.
Ogre foi criado em 2009, no seguimento da digressão do álbum “Chocolate”, do duo Laginha e Maria João, e conta com a participação de quatro jovens músicos de pleno talento. São eles João Farinha (piano e teclados), Júlio Resende (piano), Joel Silva (bateria) e André Nascimento (eletrónica) . O projeto viu a sua popularidade a alastrar-se depois de várias atuações, ao vivo, na Fábrica do Braço de Prata, em Lisboa. O conceito parte de uma mistura de vários géneros musicais, todos eles diferentes, mas com um fator em comum, o jazz. O resultado é bom e alternativo quanto baste, assentando no caudal fluído e confortável que caracteriza o jazz.
E foi mesmo esse conforto que se fez sentir na noite de quarta no Ritz Clube, levando a que, logo no primeiro tema, as pessoas se sentassem no chão, com o intuito de acolher, de forma aconchegada, as sonoridades oriundas do palco. “Electrodoméstico” foi o álbum, lançado este ano, que obteve o principal foco na noite passada, porém, muitos outros temas foram tocados pelo quinteto, desde originais antigos da banda, a covers de temas jazz e rock, como foram o caso de “I Get a Kick Out Of You”, de Ethel Merman e “Since I’ve Been Loving You”, de Led Zeppelin. Ambos os temas receberam aplausos como resposta a uma excelente interpretação por parte do grupo. Destaque ainda para “Reggae da Maria” e “Má e Do Bom”, temas do mais recente registo do coletivo, que demonstraram a qualidade exímia do quinteto liderado por Maria João.
Ouvir Ogre ao vivo é uma experiência deveras aliciante. O facto da banda ir buscar influências um pouco por toda a parte faz-nos sentir passageiros de uma longa viagem, que começa nos clubes de jazz de Nova Orleães e acaba nos subúrbios da música electrónica do Reino Unido, com o IDM e o drum and bass. Pelo caminho são deixadas pequenas marcas com paragens no Brasil, com a bossa nova, e na Jamaica, com o reggae. É toda esta miscelânea o grande núcleo dos Ogre, que se atrevem a ir consumir um pouco de cada cultura e cada estilo musical, de forma a criarem a sua própria personalidade na música.
Toda esta experiência foi acompanhada, na passada quarta, pelo brilhante desempenho de Maria João, na voz, que nos brindou com variações que foram desde o mais suave e apaziguante murmurar, ao grito mais intenso e inquietante, provocando interessantes contradições do seu registo nos nossos ouvidos. A palavra Ogre surge associada a um monstro lendário, grande, medonho, meio homem e insaciável. Este Ogre em questão, sofre da insaciável fome de música e, quando se alimenta dela, transforma-se num monstro alternativo e sem estilo definido.
Manuel Rodrigues

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Foto depois da festa.