É já amanhã que Os Pontos Negros sobem ao palco do Ritz Club, em Lisboa, para um grande espetáculo de «roque enrole», uma celebração suada de toda discografia da banda, que terá como um dos pontos altos o regresso de João Coração aos palcos. Em destaque estará, naturalmente, “Soba Lobi”, última incursão discográfica do quarteto, gravada em Abbey Road – sim, leram bem, Abbey Road! – e editada pela Optimus Discos em abril deste ano que se aproxima do fim. Um registo que assume um reencontro com as raízes mais roqueiras do grupo, mas nunca um retorno às origens, porque o caminho, esse, faz-se caminhando para a frente, garantem.
Palco Principal - Em “Soba Lobi” assumem um reencontro com as raízes mais roqueiras do grupo. Porquê este retorno às origens?
Jónatas Pires - Para nós, não é um retorno. O caminho faz-se caminhando para a frente, não em retrocesso. Compreendemos que, por ter um som mais agressivo que o disco anterior, possa parecer um regresso às raízes, mas qual é a planta que cresce sem as raízes crescerem sempre mais, cavarem sempre mais fundo? Este disco é um estender dessas raízes. No final do dia, fazemos é canções, desde sempre.
PP - Confessaram, em diversas entrevistas, terem vindo a perder a atenção mediática. Não terá sido a extensão ao rock mais crú, mais negro e pesado que caracteriza o início da vossa carreira uma tentativa de fazer o hype em redor d’Os Pontos Negros voltar a crescer?
JP - Tal como toda a parafernália mediática que rodeou a banda entre o EP de 2007, pela FlorCaveira, e o "Magnífico Material Inútil" não foi culpa nossa, o que se seguiu também escapou ao nosso controle. A verdade é que temos mais pessoas a ouvir-nos hoje que em 2008. A verdade é que já não somos o peixe mais fresco do mercado - há peixe novo a chegar todos os dias. Não queremos que haja hype à volta da banda, porque, quando há, passa, e quando passa, morre. Queremos, sim, que as nossas canções continuem a poder ser ouvidas por quem quer e gosta.
PP - Na vossa opinião, por que motivo perderam a atenção dos media nos últimos anos?
JP - Não sabemos se isto é assim tão líquido. Por exemplo, tanto o Palco Principal como a Caras estão a promover o concerto no Ritz. Querem maior amplitude?
PP - Após o lançamento de “Soba Lobi”, a situação reverteu-se? O facto de terem gravado o álbum nos estúdios Abbey Road colocou, certamente, Os Pontos Negros «na boca do mundo»…
JP - É um factor que desperta interesse, claro. Mas o disco não é bom por ter sido gravado em Abbey Road. O disco é bom porque fomos com canções em que acreditamos para Abbey Road, e lá o trabalho que fizemos foi, esse sim, fantástico. Aqui os créditos vão para o nosso engenheiro de som, Tiago de Sousa, que soube tirar o que de melhor o estúdio tinha e se enquadrava naquele que era o som pretendido pela banda.
PP - De que forma é que gravar o disco num local de gravação tão mítico influenciou a sonoridade final de “Soba Lobi”?
JP - É uma experiência quase metafísica entrar no estúdio pela primeira vez, mas depois, com a pressão de gravar tudo em três dias, isso passa. Em termos de influência direta, talvez “Soba Lobi” tenha sido influenciado pelo material que usámos, que não estaria disponível noutras circunstâncias, e pela configuração da sala, que permitiu uma captação característica dos instrumentos.
PP - Tiveram um tempo de estúdio cronometrado ao minuto, com apenas três dias para a gravação do álbum. Ficaram a suspirar por mais um tempo ou nada teria sido feito de forma diferente caso tivessem mais dias em Abbey Road?
JP - Teria sido ótimo ficar mais um ou dois dias, nem que fosse para gravarmos logo as vozes no estúdio. Mas o disco é o que é por causa do tempo que tivemos para o gravar, e o resultado final, aquela urgência latente, os instrumentos crus, existem por causa dos três dias. Se fossem sete ou oito, seria obviamente diferente.
PP - A gravação em Abbey Road foi-vos proposta por Henrique Amaro, responsável pela direção artística do projeto Optimus Discos, através do qual “Soba Lobi” foi editado. Qual a primeira reação d’Os Pontos Negros a uma proposta aparentemente impensável?
JP - Aceitar de olhos arregalados. “I’m gonna make him an offer he can’t refuse”, como diria Vito Corleone. E como no badalado filme, não tivemos outra escolha senão aceitar.
PP - Como olham para o trabalho que a Optimus Discos tem vindo a desenvolver, no geral?
JP - Fantástico. Editam muitos discos, possibilitando que muita coisa ainda desconhecida do grande público possa fazer o seu percurso, com total independência. Ainda é cedo para se fazer um balanço próprio, mas com o tempo se verá quais os resultados reais deste investimento sem paralelo.
PP - Que mais-valias trouxe aos Pontos Negros a edição de “Soba Lobi” pela Optimus Discos?
JP - Irmos a Abbey Road. Não chega?
PP - Apostariam na Optimus Discos para editar o próximo disco d’ Os Pontos Negros?
JP - O “Soba Lobi” ainda nem um ano tem. Calma...
PP - Tem sido entusiasmante – para banda e público – tocar “Soba Lobi ao vivo?
JP - Muito. Não temos tocado tanto quanto desejaríamos, mas as canções gritam “presente” ao vivo, e o público tem reagido bem até agora. Para nós é óptimo tocá-las, têm uma energia intrínseca impossível de explicar, pelo menos quando nos juntamos os quatro e os instrumentos se erguem em alta voz.
PP - No próximo dia 13 de outubro, apresentam-se em Lisboa, no Ritz Club. O que podemos esperar desse espetáculo?
JP - Acima de tudo, um espectáculo de «roque enrole». Temos o grande regresso do João Coração, que se vai juntar a nós em palco, para além de tocarmos grande parte do “Soba Lobi” e percorrermos a discografia da banda desde o início (mesmo, mesmo do início). Uma grande celebração, esperamos, com muito suor, como um bom concerto deve ser. No final, ainda temos os CIMENTO, que tornam a noite ainda mais apelativa. Quem ainda não os conhece, tem aqui a sua chance. E, já agora, de conhecer Os Pontos Negros também.
Sara Novais
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