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quinta-feira, 19 de julho de 2012

Festival Marés Vivas tmn, dia 1: Franz Ferdinand convencem em noite de vitória para os Wolfmother

Cerca de 19 mil pessoas, de acordo com fontes oficiais, rumaram ao Cabedelo, em VilaNova de Gaia, para o primeiro dia da décima edição do festival Marés vivas, vista como a maior e com as melhores propostas até à data.
À semelhança do que acontece já por outros festivais, a plateia deixa de estar composta exclusivamente por portugueses e galegos, sendo várias as línguas que ecoam por entre a audiência, onde inclusivamente detetámos um casal de estrangeiros que escolheram o Porto e o festival como destino para a lua-de-mel.
Os Franz Ferdinand encabeçaram um cartaz de três bons nomes, numa atuação de sucesso previamente garantido. Os australianos Wolfmother, um pouco mais desenquadrados, acabaram por surpreender, com um concerto feito a grandes descargas rock a que ninguém soube ficar indiferente.
Coube aos portugueses Lazy Faithful as honras de abertura da edição 2012 do Marés Vivas e também a inauguração do Random Stage, cujas bandas que por lá passam se encontram no segredo dos deuses (vá, da Pev Entertainment) até ao momento em que pisam o palco. A própria banda, portuense de gema, assume o papel de mestre-de-cerimónias quando, finda a primeira música, atira um pressentível “Olá, nós somos os Lazy Faithful e damos como aberto o Marés Vivas”.
A «cerimónia» prossegue em modo rock n’ rol, com Tommy Hogg, vocalista do projeto, que achou por bem apresentar-se em palco de roupão, num atentativa (algo frustrada, pareceu-nos) de confirmar a alegada irreverência da banda juvenil, a debitar temas previsíveis, com o seu quê de imaturidade vocal e sem surpresas criativas a considerar, ensombrados por um som demasiado alto expelido das colunas, digno de um palco um par de vezes maior.
Indiana Blues Band, projeto do já bem conhecido entre nós André Indiana, que em 2012 decidiu aventurar-se em territórios blues, contando para o efeito com os préstimos de Hugi Danin (na bateria), João André (no baixo) e Paulo Veloso (no piano), foi o segundo projeto a subir ao palco Moche do MarésVivas tmn, já com o recinto em polvorosa e com o sol a dar, timidamente, lugar ao ventinho chato, habitual nos festivais à beira mar plantados.
Os temas do novo álbum do músico, interpretados com uma dose generosa de exibicionismo, por entre expressões emitidas num inglês forçado que muito não foram além de “Oh Yeah, baby” e afins, conduziram a maioria da atuação, que viveu o seu momento mais alto aquando da interpretação bem rasgada de Love Me Two Times, dos The Doors, importunada, à semelhança das restantes incursões pelo palco secundário, pela má qualidade do som.
Desde os primórdios da sua carreira os The Sounds têm vindo a ser comparados aos Blondie, por exemplo, a quem beberam influências punk e new wave que os ajudaram a edificar um peculiar indie-rock dançável, repleto de provocação, assente numa atitude algo reguila e assertiva, que facilmente transformará Maja Ivarsson num modelo a ter em conta pelas adolescentes em fase de desenvolvimento.
Em boa verdade, por uma colagem de trejeitos, indumentárias retro e alguns esforços vocais, torna-se difícil não encarar a vocalista oxigenada dos The Sounds como uma Debbie Harry dos tempos modernos, cujo maior pecado, evidentemente, recai na falta de originalidade. Não obstante, os suecos em álbum convencem e, em teoria, têm tudo o que é necessário para persuadir e entreter o público catraio que ontem se juntou frente às imediações do palco principal do Marés Vivas, desde cedo, muito à pala dos Franz Ferdinand e do bigodinho Alex Kapranos. Porém, na prática, o concerto dos suecos demorou um pouco a arrancar, ou, como referiu a própria cantora, a despertar o povo da “siesta”. Foi Tony de Beat a acordar as belas e os príncipes do sono, apesar das várias tentativas prévias da banda em espicaçar o público, com pedidos de palmas, saltos e alguma “ação”, que lá foram sendo gradualmente acedidos, e que até valeram uma queda de Maya do cimo dos seus fragilmente estruturados saltos altos.
Os portuenses Bang Bang Romance foram o primeiro projeto vencedor do concurso de bandas do Palco Principal a subir ao Palco Moche.
Para uma plateia pouco numerosa - que ainda assim foi crescendo aos poucos, entre as atuações dos The Sounds e dos Wolfmother -,  Paulo Carmona, Alexandre, Trix Beta e Eddys viajaram por temas de caráter mais interventivo (Que Nome Dás?) e outros de narrativas mais inusitadas (Último dos Malditos e Señorita Confusa, o primeiro single, a títulos de exemplo), suportados por uma base blues com pitadinhas de folk acrescentadas pelo jogo de guitarras, e os toques mais especiais conferidos pelo contrabaixo e pelo violino. Uma prestação que teve ainda a particularidade de ser bilingue, com Flowers and Violins, canção em inglês bem encorpado numa mescla de sobreposições vocais engrandecedora.
Numa noite em que duas bandas apelaram diretamente a um público mais jovem, a adesão do mesmo às sonoridades mais sujas protagonizadas pelos Wolfmother acabou por revelar-se surpreendente. O chapéu de palha que ao longo da atuação dos suecos The Sounds, a quem coube a missão de abrirem o palco principal, fora lançado em jeito de frisbee de um lado para o outro, deu lugar a um cenário de braços elevados, movidos ao ritmo da música, e muito headbanging sincronizado, bem ao estilo dos ouvintes do rock mais pesado.
Com White Feather as hostes do hard rock psicadélico dos australianos foram inauguradas, dando origem a um concerto pautado por jams consecutivos e riffs poderosos sobrepostos por uma tonalidade vocálica arranhada, a assegurar as lições de estudo devoto perante uns Black Sabbath ou uns Led Zeppelin.
“Contaram-nos que o público português é o melhor do mundo. O que têm a dizer sobre isso?”, questionou Andrew Stockdale, vocalista e guitarrista, antes de introduzir White Unicorn, numa versão intercalada com Another Brick In The Wall, dos Pink Floyd, que até os desconhecidos converteu à cantoria.
Dimension e Colossal levaram a um final acelerado, de muita poeira levantada no meio das gentes, que acabou por concretizar-se com Jocker The Thief num espetáculo de teclados violentamente calcados e muitos cabelos no ar.
Foi um Alex Kapranos de cabelo à tigela e bigode em risteque subiu, já o ontem era hoje, ao palco principal do Marés Vivas tmn 2012,para dar como encerrada a noite inaugural da 10ª edição do certame, no que àssonoridades de cariz não eletrónico diz respeito.
Do You Want entrou logo matar, sem direito às saudações ou introduções da praxe, com a banda, vestida a rigor – só o baixista recusou as indumentárias cool que os restantes colegas exibiam – e entregue aos instrumentos, tocados sem margem para desacertos, como se deles se fizessem acompanhar desde os tempos de fralda e biberão, a mostrar, perante um público entusiasmado, o porquê de ser sempre tão bem-vinda a território luso.
Ao segundo exemplar da discografia da banda, “You Could HaveIt So Much Better”, o quarteto britânico ainda foi buscar, ao longo de hora e meia de concerto, a menos agitada Walk Away, The Fallen e, a fechar a convincente prestação da banda, Outsiders, com Kapranos, Bob Hardy e Nick McMarthy a rodearem a bateria de Paul Thomson, que exploraram, divertidos, em jeito de diabrice final.
Continua, portanto, a ser no seu disco de estreia homónimo que a banda assenta grande parte das suas performances – uma escolha astuta, na medida em que são os temas deste que provocam a maior agitação entre o público, que continua, definitivamente, a celebrar cada riff de Jacqueline, The Dark ofthe Matinée, Take Me Out, 40’, This Fire e Michael, tocadas ontem quase de rajada, apenas intercaladas por The Universe Expanded, uma das novas canções do coletivo, Can’t Stop Feeling, que surgiu de mãos dadas com I Feel Love, de Donna Summer, e Ulysses, raro exemplar no espetáculo de ontem de “Tonight: FranzFerdinand”, terceira aventura discográfica do grupo, a par com No You Girls, surgida logo ao segundo fôlego.
Com novo disco na calha, a sair ainda este ano, Kapranos e companhia ainda tiveram tempo e energia para Right Thoughts e Scarlet &Blue, anunciadas como “novas canções”, numa das poucas interações do vocalista com a assistência, que teve que se contentar, salvo raras exceções, com meros “obrigado”, ora pronunciados em português, ora em inglês, entre os temas, despejados no Cabedelo com laivos de rotina, mas com mestria e muito estilo.
Do totoloto de propostas aleatórias para aquecerem a noite ventosa que se prolongou madrugada fora, a programação do dia de ontem ficou a cargo de Clash Club, com Beatbender, The Boys Who? e What DJ? – três propostas distintas com selo de qualidade garantido.
Hoje a maré segue em frente, patrocinada por uma certa nostalgia ao som dos Garbage e dos The Cult. Veremos também que tropelias trará Ricky Wilson debaixo da manga, no retorno a um palco que, há um par de anos atrás, acolheu tão bem os Kaiser Chiefs.

Texto: Ariana Ferreira e Sara Novais

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6º ARCA DO ROCK

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Foto depois da festa.