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sábado, 21 de julho de 2012

Criador da guitarrada, Mestre Vieira ganha documentário, DVD e site em sua homenagem

RIO - Joaquim Vieira, paraense da pequena Barcarena, já tocava banjo desde os 5 anos — e ainda criança aprendera também violão e cavaquinho. Tudo escondido do pai, um português sério que não gostava de música, a não ser se fosse "com um daqueles instrumentos bonitos lá da terrinha" — e foi assim que o jovem, aos 14, chegou ao bandolim. Só por volta da casa dos 20, porém, ele tomou contato com o instrumento que lhe daria a fama. Hoje, aos 77 anos, Joaquim é conhecido como Mestre Vieira, criador da guitarrada — gênero de enorme popularidade no Norte e Nordeste do país e de prestígio igualmente gigantesco junto à geração 2000 da música brasileira, de nomes como DJ Dolores, Pio Lobato, Do Amor, Fernando Catatau, Kassin e Gaby Amarantos. Agora, ao completar 50 anos de carreira, a obra do guitar hero tropical é celebrada com DVD ao vivo, documentário e site.
— Vi a guitarra pela primeira vez no cinema, em Belém, num filme que tinha um grupo de rock — lembra Vieira. — Gostei do som, mas não sabia como conseguia aquele instrumento. Conheci uma pessoa do Rio que estava passeando no Pará, e uns seis meses depois ela me mandou uma guitarra, toda desmontada. Meu irmão era marceneiro e conseguiu montar. Como não tinha corda de guitarra, pus corda de violão. E um padre italiano que eu conhecia me falou que eu tinha que ter um amplificador pra tocar. Ele buscou na Itália as peças, e eu montei meu amplificador, que alimentava numa bateria de carro.
O rock, o Rio, um padre, a Itália, a gambiarra — a combinação foi a fagulha que disparou a combustão do que viria a ser a guitarrada. Combustível, Mestre Vieira tinha de sobra. Os ritmos caribenhos ("Ouvia muito mambo"), o carimbó local, Beatles ("Tocava tudo deles"), o choro... Formou então um conjunto, que ficou famoso sob o nome Os Dinâmicos. Com o grupo, gravou em dois canais o hoje histórico disco "Lambada das quebradas", em 1978, que apresentaria ao mundo sua guitarra particular, livre de distorção, regional e internacional, quente e inocente ("Uma incrível pureza maliciosa", como define o baterista e compositor Marcelo Callado, da Banda Cê e do grupo Do Amor).
Juntos novamente, os Dinâmicos participaram da gravação do DVD de Vieira, realizada semana passada no Theatro da Paz, em Belém. Além da antiga formação, o mestre recebeu no palco alguns admiradores mais jovens, como Catatau, Felipe Cordeiro e Lia Sophia — a direção musical, aliás, foi de um discípulo de Vieira, Félix Robatto, ex-La Pupuña.
— Ele tem a capacidade de ser criativo dentro de uma extrema simplicidade. Essa criatividade, um pouco imprudente, afirmou uma linguagem singular — define Cordeiro. — Nossa geração entendeu que a guitarra limpa e vigorosa do mestre Vieira é mais venenosa que o rock em geral. Isso abriu caminho para as gerações atuais.
A ideia do DVD é da jornalista Luciana Medeiros, que coordena as homenagens pelos 50 anos de carreira de Mestre Vieira. Desde 2008, quando conheceu o músico pessoalmente, ela o acompanha de perto.
— Queria entender como funcionava o universo dele, como um cara com aquele talento e com o reconhecimento que ele tinha nunca saiu de Barcarena, continuava vivendo dos shows que fazia nos arredores ou pelo país com o Pio Lobato (guitarrista que idealizou o projeto Mestres da Guitarrada, que impulsionou a redescoberta do gênero e de Vieira, integrante do grupo ao lado dos mestres Aldo Sena e Curica) — conta Luciana, que, a partir de seus encontros, decidiu lançar luz sobre a trajetória e a obra do artista no DVD e também no documentário "Coisa maravilha". — O filme vai ficar incrível, temos um material do gênero "Buena Vista". Em outubro (no dia 29, quando Vieira faz 78 anos) todos verão. É quando pretendemos lançar tanto o documentário quanto o DVD.
Difusão do gênero na internet
Completam as homenagens o site www.mestrevieira.com.br (em construção), que além da biografia e discografia do músico pretende ser um espaço de difusão da guitarrada, com acervo, notícias e agenda referente ao gênero. Oportunidades para que muitos mais conheçam o trabalho de Vieira — uma música que, para DJ Dolores, que gravou com os Mestres da Guitarrada o CD "Música magneta", carrega uma objetividade de pista de dança.
— A capacidade de síntese melódica e o ritmo circular presentes na música de Vieira são os elementos-chave de qualquer música feita para dançar — acredita o DJ.
Quem vê o mestre com suas tradicionais blusas floridas, solando com a guitarra nas costas ou usando objetos variados para tocá-la (como fez na gravação do DVD), entende de cara seu diálogo com o universo pop — na essência, não nos aditivos.
— Gosto da guitarra limpa — ele diz, antes de explicar, com uma simplicidade sintética e poderosa como a sua música. — Tenho aquela influência do que é a realidade, sabe?

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Foto depois da festa.