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segunda-feira, 30 de abril de 2012

Entrevista: o novo disco e os novos riscos do Holger

Entrevista: o novo disco e os novos riscos do Holger:

Um ano e meio se passou desde o último disco do Holger. Sunga posicionou os cinco garotos de São Paulo como uma das novidades mais autênticas e efervescentes da música brasileira nos últimos anos. Uma dezena de shows, uma centena de novas descobertas sonoras e 34 mil quilômetros rodados em turnê depois, o Holger é outra banda. Vestiu de vez a camisa verde e amarela, passou a compôr em português, deixou de querer ser o Pavement brasileiro e voltou a escutar axé – não num contexto tosco, debochado, ou coisa parecida.
Em entrevista ao Move That Jukebox, quatro dos cinco caras falaram sobre o processo de criação e gravação do novo álbum, que viagens de carro e experiências praianas foram fundamentais para o novo trabalho e que “o melhor grupo indie é aquele que surge sem a pretensão de ser propriamente indie”. Além de escancarar uma certa falta de afinidade com o Foster the People.
A entrevista abaixo aconteceu na varanda da casa do Pata, vocalista do Holger, enquanto o Move ouvia com exclusividade à versão demo do próximo disco, que será lançado em agosto deste ano. É a primeira vez que a banda fala abertamente sobre o novo trabalho após o término das gravações, nos estúdios da Trama. É também a segunda entrevista deste blog com o Holger – a primeira foi em setembro de 2010, dois meses antes do Sunga. Uma avalanche de coisas mudaram desde então – mas os anseios, a ginga e o espírito de moleque tropical do grupo continuam exatamente os mesmos.
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Não dá pra começar a entrevista sendo menos direto: o que vocês querem com o disco novo?



Pata: A gente só quer ser livre. Estamos nos arriscando de várias formas, trabalhando com um monte de gente diferente, caminhando pra lados que a gente nunca imaginou antes. Esse disco chega junto com um novo contexto pro Holger, nós mudamos pra caramba como pessoas e como músicos desde então e o Sunga não é exatamente o trabalho mais coerente com que a gente tá vivendo como banda agora…
Interessante esse lance de vocês dizerem que sempre quiseram ser livres. Não era assim na época do Sunga?



Pata: Óbvio que eu sou satisfeito com o Sunga e agradecido por tudo o que ele deu pra gente. Mas logo depois do disco, eu percebi que aquele não seria um som que eu ouviria, apesar de achar que tava numa qualidade legal.
Tché: É um lance de timing, coisa que foi muito diferente desse próximo. A música mais antiga do Sunga tinha um ano e meio quando a gente lançou o disco. Nesse a música mais antiga tem só seis meses.
É tudo mais fresco, então?



Tché: É tudo mais fresco, e acho que por isso estamos mais empolgados pra mostrar o disco, porque é algo que estamos vivendo agora. Talvez daqui a um tempo a gente ache que… bom, a gente nunca cospe no prato que comeu, mas definitivamente queremos seguir outros caminhos.
Pata: Rolou um longo processo entre um disco e outro. Muita turnê, muito show e muita viagem de carro. Isso mudou tudo. Foram catorze mil quilômetros na gringa e só no Brasil a gente deve ter rodado mais de vinte mil, fomos pra tudo quanto é lugar. E viagens de carro têm algumas particularidades. Você não tá em lugar nenhum, você não tem o que fazer, tá com as mesmas pessoas sempre, então tudo o que você tem que fazer é fumar um, ouvir música e trocar ideia. Tinha hora que a gente se pegava ouvindo coletânea de música dos anos 90, coisa que não pegaríamos pra ouvir sóbrios. Aquilo fazia a gente dar risada, e no momento da risada você percebe “porra, tem um elemento legal nessa música”. E então você começa a se ligar numa parada maior, começa a se aprofundar. A gente começou a discotecar mais também, a música eletrônica foi ficando cada vez mais presente. Ouvimos muita mixtape durante as viagens.
Podem especificar melhor que discos e mixtapes vocês mais ouviram durante as viagens?



Pata: Acho que o primeiro disco que temos que citar é o A Tábua de Esmeralda, do Jorge Ben. A gente ouviu esse disco algumas milhões de vezes. Ouvimos muito Novos Baianos, Tom Zé, Caetano. Muito Paralamas, Sting pra caramba. A maioria das coisas que a gente tava ouvindo era em português. Que sentido tava fazendo cantar em inglês agora? Começamos a nos perguntar, “por que a gente canta em inglês”? Foi uma pergunta que a gente já respondeu um milhão de vezes, dando os mais diferentes tons de resposta. Mas o motivo principal é que é muito mais fácil compôr em inglês.
Capa de A Tábua de Esmeralda, do Jorge Ben, um dos discos mais ouvidos pelo Holger em turnê
Compôr em inglês é mais sonoro?



Tché: É mais fácil, pelo simples motivo de não ser a nossa língua. Você está usando uma máscara, está se arriscando menos. Mas, cara, dá pra compôr em português e ficar legal. Olha o Do Amor, olha o Mundo Livre S/A…
Hmmm… Vocês acabaram de citar um monte de referências “fora do espectro indie” para este próximo disco. Certa vez o Pata me disse que “as bandas indies mais bacanas de se ouvir são aquelas que não se inspiram só no que é necessariamente indie”. Talvez seja o caso de terceirizar fonte de inspiração, né? Beber na fonte de quem já bebeu de uma outra fonte e etc…



Pata: Que é a impressão que dá quando você ouve tipo o Foster the People. Os caras ouviram Passion Pit e Peter Bjorn & John…
Rola: E no palco soam como o James Blunt (risos)!
Pedro: Falando sério, a gente caiu na geração Napster e sempre baixou muita música. São cinco caras na banda, todo mundo sempre ouviu muita música de muitos estilos diferentes e mesmo assim cada um tem um lado mais forte, fases mais fortes. Isso no final ajudou muito a gente a sair desse meio “indie” e procurar fontes mais lá embaixo.
Pata: Foi tipo “se a gente tá indo pra esse lado, vamos assumir o que a gente tá fazendo de uma vez”? E aí os nossos encontros pra fazer música era basicamente ficar sentado aqui nessa varanda, fumando um, ouvindo coletânea de axé, prestando atenção na batida…
Um brainstorm e um momento de pesquisa confortável faz toda a diferença, então?



Tché: Certa vez a gente pegou a bateria do início de um axé, deu um loop, sampleamos aquilo, ficou impressionante… não entrou no disco, mas aí veio a sacada de olhar o axé com outros olhos, como o ritmo foda que ele é de verdade. Escuta aí, Timbalada, “Beija-Flor”. Puta música foda, com um arranjo de percussão maravilhoso, uma melodia doce…
Rola: Axé é foda. É doce, é aquela música que te dá vontade de levantar os braços e ir atrás de todo mundo, tá ligado? É muita vibração.
Tché: Como a gente viajou muito, foi em muito festival, viu muito show, nos aproximamos de sons de um jeito que talvez não rolaria se só estivéssemos ouvindo um disco, sabe?
Pata: Fizemos setenta e sete shows no ano passado. Sem falar em ensaio, participação em rádio, TV… a gente tava tocando tanto que estávamos nos tornando melhores músicos, numa sintonia muito grande entre a gente. Eu conhecia minha guitarra mais do que nunca, pesquisei o efeito que queria com ela pra buscar uma nova sonoridade. Acho que eu tô no meu auge como músico.
Viajando em turnê, acredito que vocês puderam perceber como o nosso país é rico pra caramba, né? O que de mais legal vocês descobriram cruzando o Brasil?



Tché: Teve uma vez que a gente foi pra Porto Velho e aí resolvemos sair à noite. Vimos uma bandinha tocando lá, da cidade mesmo, foi foda. Era um repertório de covers, coisa simples, mas essa experiência do “som local” pode ser comparada a quando você está em Austin, no Texas, e vê uma banda fudida de lá também…
Essa pegada regionalista no som das bandas de hoje tá assumindo proporção de tendência, né? Bandas brasileiras querendo fazer som brasileiro de verdade, ao contrário do que a gente viu há alguns anos, quando as produções do indie rock nacional eram bem semelhantes, mais pasteurizadas e tal… isso tem tudo a ver com o Holger, né?



Rola: É exatamente isso. A gente quer pegar esse tom regionalista e transformar em música pop coerente com a nossa proposta como banda.
Pata: Cara, o Brasil é o lugar mais legal do mundo e isso anda muito óbvio pra qualquer um agora. É muito rico culturalmente… é muito foda, tá ligado? Eu não quero parecer uma banda indie americana. Eu quero parecer uma banda de São Paulo.
Rola: É, uns malucos de São Paulo, (risos)!
Tché: Isso de parecer americano vicia as bandas, é natural, porque é lógico que tem música de qualidade nos Estados Unidos e chega muita coisa pra nossa geração. Não tem como fugir dessa influência. Mas a gente tá falando de uma questão de identidade e aí vem esse lance do auge. Nesse disco conseguimos nos encontrar melhor e talvez a gente ainda vá além. O Sunga tem muito dessa influência indie gringo, o Green Valey então… cara, a gente queria ser o Pavement, o Wilco…
Pata: Dessa vez a gente só quer ser a gente.
Nos intervalos das gravações do novo disco… | Fotos: Reprodução
Pensando numa perspectiva além de música, o que mais influenciou vocês na gravação desse disco? Mulher, sol, praia, Brasil, calor?



Pata: A vida, cara (risos)! Bom, eu tranquei minha faculdade, o Rola também, o Che largou o trampo dele…
Pedro: É por aí, todo mundo parou pra fazer esse disco mesmo. E isso influenciou em várias coisas. O Tché falou uma vez uma parada que fez todo sentido: “cara, como a vida à tarde é gostosa”. E como todo mundo estudava e trabalhava, a gente não vivia a tarde de forma livre. Decidimos começar a ter isso. Eu acordava, vinha de metrô pra cá, a gente ia a pé pro Mancha, de tarde, ficava ouvindo o barulho da rua…
Tché: O lance com o Mancha foi muito importante, foi decisivo. A gente fez um esquema com ele pra compôr o disco lá na casa dele, que é um lugar muito aconchegante…
Rola: A Casa do Mancha é mesmo uma casa no final das contas, né? Uma casa que na verdade não é de ninguém, porque ninguém passava o dia lá, então acabou sendo a nossa segunda casa durante a gravação do disco…
Pata: As pessoas que trabalham lá são demais. Eu já trabalhei no bar…
No bar do Mancha?
Tché: Porque ele quis, ele pediu (risos)!
Mancha (Casa do Mancha) e Dago (Neu Club/Avalanche Tropical) | Fotos: Reprodução
Pata: A gente fez tudo sem pressão durante o processo de composição. Tudo o que a gente fazia era tipo uma jam de algumas horas. Gravando no iPhone mesmo. Chegava lá, sentava e ficava tocando, quieto, durante uma hora, duas…
Rola: Aí parava, fumava um cigarro, começava a ouvir um som…
Pata: Depois a gente mandava pro e-mail de cada um e falava: “porra, cara, essa guitara aqui ficou legal!” A gente dava uma editada em tudo e assim fomos construindo o esqueleto das músicas. Fomos pro estúdio com menos de metade das letras prontas, mas com todas as estruturas delas prontas.
Pedro: O que influenciou na gravação do disco foi isso, a gente ter chegado no estúdio com muitas ideias. Com quase músicas. E não dá pra não falar do Alex, que foi o produtor certo na hora certa…
Quando eu fiquei sabendo que era o Alex do Lemonade quem ia produzir o disco de vocês foi muito complicado segurar pra não soltar.
Pata: Você foi o primeiro a saber!
Falem um pouco do trabalho com ele. É um cara muito talentoso, né?
Pata: Ele é muito! Muito! Ele é um gênio, cara.
Pedro: E a gente nem sabia o quanto! O Alex é um gênio, ele é foda. Quando ele chegou a gente não sabia quantas habilidades ele tinha.
Rola: Ele é formado em Música e, o mais legal de tudo, vem da música eletrônica.
Pata: Tanto é que ele chegou no estúdio com um Manual de Gravação, porque ele falou: “cara, faz um tempo que eu não gravo uma banda, então eu trouxe esse livro pra ajudar e tal”.
Rola: Ele deve fazer tudo em live, né, cara? Vai pro estúdio e usa só Protunes e Logiq.
Tché: Tipo aqui, ó: (Pata aumenta o som da varanda e todos param pra escutar a demo de uma das faixas do novo disco) Tudo isso aqui são instrumentos eletrônicos, tudo feito em live. Foi assim que a gente começou a construir o álbum. Essa música foi a que a gente fez com o Bonde, e ela mudou muito com o Alex. Ela era bem mais indie e ficou bem mais pancadão, mais suingada.
Pata: O Alex chegou aqui em dia 7 de janeiro. No dia 9 de janeiro a gente começou a trabalhar, a gente gravou todas as bases das músicas. Conforme ele ia trabalhando as bases e nos passando, a gente ia fazendo as letras. No dia 12 de janeiro, a gente entrou em estúdio e saímos lá pelo dia 20.
Alex Pasternark, do Lemonade, produtor do novo disco do Holger | Foto: Karla Gironda
E vocês contaram com muitas parcerias pra gravação em estúdio, né? Conta aí pra gente quem colaborou.



Tché: Teve o João Paraíba, a participação mais sinistra do mundo. Ele é o percussionista do Trio Mocotó. Um monstro, já tocou com o mundo inteiro.
Pata: O João Paraíba, junto com o Jorge Ben, inventou o samba-rock.
Pedro: É, eles gravaram vários discos juntos. Cara, ele é um dos maiores percussionistas da música nacional e, como a gente tem essa pegada de percussão, foi a participação ideal.
Tché: Foi animal! Foi do caralho ver ele tocando, gravando sobre as nossas bases.
Pedro: E ele é uma figuraça! A gente ficou trocando ideia com ele e ele é demais. Tem história com todo mundo. Acabou de fazer uma turnê com o Madlib… Comanche… Ele é conhecido como Comanche e segundo a lenda foi o Santana quem deu esse apelido pra ele.
Pedro: Fora ele, teve a participação da Irina, do Garotas Suecas, que gravou uns vocais com a gente. Teve a Camila, uma amiga, e a Luisa, que já trabalhou com o Garotas também.
Rola: Com o Bonde do Role foi mais no início, não foi bem uma participação. A gente gravou algumas músicas que iam sair num EP especial, mas acabamos incorporando pro disco.
Pedro: Teve participação do Bomba Estéreo, da Colômbia; do Vinão, que é saxofonista…
Pata: E, claro, o DW. O DW é amigo nosso há muito tempo. É o cara mais louco do mundo, e um compositor de primeira. Ele é foda. Faz melodia como ninguém. Letra, então… Eu fiz uma música com ele um dia. Ele ouviu nossas demos, deu ideia de uma letra… E teve um dia no estúdio que a gente tava com a corda no pescoço.
Rola: “DW, cola aqui, mano!”
Pata: É, a gente tava num dilema foda, tava pra tirar a música do disco, o instrumental tava animal, mas a gente não conseguia chegar numa letra. Toda letra que a gente fazia ficava ruim. Não sabíamos mais o que fazer. Aí a gente chamou o DW, e além de fazer uma puta letra ele ainda gravou o vocal.
Que música é essa?
Tché: Os nomes ainda não são oficiais, mas essa deve ser “Me Leva pra Nadar”.
Holger x Casagrande | Foto: Reprodução

Mudando de assunto, uma vez vocês disseram no Twitter do Holger que o disco novo iria levá-los pro Faustão. E brincadeiras à parte, dá pra entender agora que isso tem uma ligação forte com o caminho pro qual vocês estão rumando, não tem?



Pedro: A grande questão é: se a gente chegar ao ponto de ser convidado pra tocar no Faustão, a gente vai achar mó maneiro.
Pata: Eu te explico aquilo (risos). Na páscoa do ano passado a gente tinha ido tocar em Ilhabela. E aí um dia a gente foi pra praia, tomou um ácido e ficou vendo uma banda tocar na praia. E a banda tocava cover de Tim Maia, cover de Lulu Santos, Natiruts. Tava um puta pôr-do-sol lindo, a gente tava se divertindo horrores. Aí eu pensei: “cara, eu preciso fazer um som que seja acessível a ponto de um cara tocar na praia pras pessoas e as pessoas entenderem aquilo”.
Rola: Isso tem muito a ver com a gente ter começado a fazer música em português. É acessível, qualquer pessoa por aqui vai entender. Por mais que não entenda o som, vai saber o que eu tô falando, vai entender o que eu tô querendo passar, vai conseguir cantar junto.
Quando eu falei do tweet do Faustão eu também pensei na posição de vocês sobre aquele papo furado todo de popularização do indie, sabem?
Tché: Tipo “trair o movimento”, né?
Rola: O movimento é divulgar nosso som, mano!
Pedro: O que a gente quer com o Holger, e isso é natural quando se tem uma banda por por prazer, é que o máximo de pessoas conheçam e escutem sua música. Não faz sentido você fazer uma música e dizer “ah, não quero que essa pessoa escute”.
Rola: Para qualquer coisa que você tenta fazer na vida, você dá o melhor que conseguir, certo? Então o melhor que eu conseguir vai ser, sei lá, as pessoas gostarem do meu som a ponto de eu ficar do tamanho do U2, sabe?
Tché: Esse lance de preconceito é absurdo. Por que é errado tocar no Faustão? É um programa que passa no domingo e tem uma audiência muito grande. Não tem problema.
Pata: Sem falar que o Faustão é mó boa praça, vai!
Vocês hoje fazem parte da Avalanche Tropical e eu acredito que o projeto é uma das paradas mais autênticas e divertidas que surgiram na música brasileira nos últimos anos. Como é estar ali no meio? Qual foi a influência de fazer parte de um lance como este para o próximo disco do Holger?



Pata: A Avalanche Tropical foi definitiva, principalmente, para a pesquisa musical que a gente fez pro disco. Posso falar que a gente usou a Avalanche Tropical a nosso favor, por ver as coisas que a galera tava postando no blog e a gente também se sentindo forçado a pesquisar conteúdo bacana. Dá um salto criativo você estar num grupo de artistas criativos. Um estimulando o outro, aglomerando parcerias, todo mundo acreditando numa coisa. Sem contar que três dos seis artistas vão lançar discos este ano.
Pedro: E um deles não vai lançar disco, mas vai tocar no Sónar Barcelona!
Pata: É um clima efervescente, um ambiente muito bom pra criar. A gente se sente mais forte juntos do que separado.
Pedro: As pessoas nas quais a gente se influenciou para criar a Avalanche foi a ZZK na Argentina, a MAD Decent… turmas que viraram um selo e começaram a exportar um certo tipo de música – no nosso caso, a música brasileira. A gente sempre achou isso muito legal. A ZZK, por exemplo, exportou a cumbia digital pro mundo inteiro.
Banda Uó, André Paste, Dago, Drunk Disco e Holger formam a Avalanche Tropical | Foto: Sérgio Takahata
Sim, e é também um movimento inédito, porque, por exemplo, dá pra imaginar que as pessoas que escutavam Holger há dois, três anos estariam se identificando com o tecnobrega hoje?



Pata: Ao mesmo tempo que eu acho que isso atraiu gente, acho que a gente também perdeu. Obviamente deve ter gente que deve adorar, achar do caralho, como também gente que deve falar: “meu, os caras viraram uns palhaços, começaram a entrar numa pilha de querer ser brasileiro”.
Tem os dois lados, né? E dos quase oitenta shows que vocês fizeram ano passado, vocês conseguem citar os momentos mais legais?
Pata: O South by Southwest de 2011 foi extremamente importante.
Tché: Foi meio mágico, eu diria. A gente tinha um showcase só. Isso no South by Southwest é pouquíssimo, tem banda que toca 14 vezes em 4 dias. Conseguimos apenas um oficial e nenhum outro extra. É aleatório, né, eles colocam você numa casa X…
Rola: Colocaram a gente num showcase sulamericano, sei lá, latino. Bandas de rock de países latinos.
Pata: Rolou cover de The Doors antes da gente, pra você ter noção. Era um lugar muito bom, tava mais ou menos movimentado, mas cabia 100 pessoas no máximo…
Pedro: A gente começou a tocar e foi enchendo a casa. Só fizemos esse show e tinham três pessoas muito certas que calharam de estar ali. A mina da BBC de Londres, o cara da NPR…
Pata: A NPR hoje em dia é uma das maiores influências da imprensa musical, o jornalista de lá viu nosso show e listou o Holger como uma das maiores descobertas do South by Southwest.
Rola: E eu lembro da gente nem achar o show tão bom!
Tché: É, a gente ficou na bad depois. Só que todo mundo gostou muito!
Pata: Outro show muito bom foi o de Realengo, no Rio, pela Noisey.
Pedro: Esse dia foi muito foda! A gente nunca imaginou que tocaria em Realengo um dia. Não sabíamos o que esperar!
Rola: Acordamos, o cara já levou a gente pra Lagoa. Tomamos um choppinho ali, uma água de côco, ficamos trocando ideia com a Vice. Depois pegamos a van e fomos pra Realengo. Chegou lá, mano… uma tenda no meio do nada, tenda Gilberto Gil.
Pata: O Dorgas tocou antes e fez um show mágico! Todo mundo já tava feliz de estar ali. Tínhamos acabados de voltar de turnê, todo mundo amigo, e o Dorgas… a gente é apaixonado por eles – inclusive me lembra de falar deles em entrevista se não o Guerra me xinga…
Tché: (risos) Mas era isso. A gente já tava numa vibração muito intensa, e aí subimos no palco sem esperar qual seria a reação do público. O show foi indo e o pessoal começou a responder de uma forma muito foda. Fomos nos empolgando até que culminou num momento em que a galera toda subiu no palco, a gente ficou meia hora cantando funk. O Guerra de cueca em cima do Rola, e aí uma hora alguém falou assim: “E aí, quem quer vir aqui pra cima cantar um funk?” Aí um moleque foi lá e disse: “Eu, eu tenho um funk que eu fiz e eu quero cantar”
Pedro: Na frente de todo mundo que tava em cima do palco ele chegou e começou a mandar o “Funk do Pau Molão”, fazendo a dança do Pau Molão! Foi todo mundo à loucura!
Holger em Realengo | Foto: Noisey
Pata: Outro show foda foi em Floripa, com o Drunk Disco, o Copacabana Club e uma escola de samba. Nesse dia a gente tava numa onda muito boa porque ia tocar com o Copacana Club e exatamente nessa noite a gente tinha ganhado o Prêmio Multishow juntos, o Copacabana e o Holger. Então foi uma puta festa!
Tché: E ainda tinha a escola de samba, Unidos da Ilha, campeã do carnaval de Floripa. Foi demais porque esses shows que funcionam como uma celebração são sempre diferentes.
Pata: Teve a Turnê Positivo que a gente fez, tocando nas escolas. Era um evento pra turma do colegial, com um público de 15 a 17 anos, cerca de 5000 adolescentes por dia. Dava 8h30 da manhã e a gente subia no palco. Tocava uma música, parava, entrava um cara, fazia tipo uma palestra, aí a gente entrava de novo, tocava, dava uma entrevista, falava com a galera, rolava outra palestra, e depois de 1h30 o pessoal afastava as cadeiras e a gente fazia um show completo.
Tché: A gente nunca tinha tocado pra adolescente antes e o pessoal respondeu muito bem! Chegamos a tocar até em Porto Velho, Rondônia, Amazonas!
Rola: E o curioso com o adolescente é que eles não compram muito a música em si. É muito mais o lifestyle, a imagem, o contexto. Sei lá, a gente foi pra Porto Velho, chegamos lá como uma simples banda de São Paulo, e o público do ensino colegial de uma escola pública não tem muito acesso a isso, sabe? Você chega lá, toca o seu som e a galera pilha, não tem jeito! Teve uma vez que chegou um moleque de 12, 13 anos e perguntou se íamos tocar, disse que gostava de música, mas queria saber como fazer porque não tinha dinheiro pra pagar.
Pedro: A grande questão é que a galera curtiu muito. Depois de todo show a gente ficava uma hora e meia dando autógrafo, conversando, tirando fotos, tinha fila pra tirar foto com a gente. Era uma coisa que a gente nunca tinha vivido assim. E eu nem acho que a gente vá viver muito (risos).
Era aonde eu queria chegar: isso tudo é formação de público.
Pedro: Sim. Essas pessoas depois nos adicionaram no Facebook, no Twitter, criaram fã-clubes, ficam perguntando quando vai ter show de novo.
Falando em bandas amigas e indicações, quais foram os projetos mais legais que vocês viram surgir no Brasil nos últimos anos?



Tché: Eu gosto do Garotas Suecas e – pode parecer suspeito porque eu tô na Avalanche – do André Paste. Acho o André um moleque genial. Toda vez que eu vi ele tocando foi sempre muito foda. É surpreendente. Ele tem uma musicalidade, uma sensibilidade que é muito pesada. O Dorgas eu acho muito louco por causa desse lance da originalidade.
Pedro: Tem o Do Amor também, mas o Do Amor não faz show, carái (risos)!
Pata: O Do Amor é sem dúvida uma das maiores influências nossas.
Rola: Esse aí foi sem dúvida outro show mágico, que a gente fez com o Do Amor! Foram dois shows, um em Maringá e outro em Londrina. Foi no começo de 2011, com o Do Amor abrindo pro Holger, o que a gente achou muito retardado.
Pata: (risos) Isso não fez o menor sentido pra gente.
Rola: Foi tipo, os caras tocaram e a gente: “ah, então tá bom. Vamo lá passar vergonha agora”. Foi inacreditável.
Tché: Os caras são muito bons, muito bons músicos, têm muito carisma no palco também.
Pata: E a gente é amigo dos Garotas Suecas desde antes da banda existir. Vimos eles evoluindo e é outra banda que também destrói ao vivo.
Pedro: O Perdido é um puta baixista, talvez um dos melhores que existam hoje em dia! Ele toca baixo pra caralho!
Do Amor e Garotas Suecas, duas indicações de bandas nacionais do Holger | Fotos: Reprodução
Pata: Tem a Banda Uó, o Bonde do Role, o Black Drawing Chalks também, que a gente curte muito. DW, Contra Fluxo, Karol Konká, Debate – que é a banda do Sérgio Ueda -, Dead Lovers Twisted Heart… cara, sei lá, eu poderia passar algumas horas citando bandas que eu adoro e nas quais acredito aqui.
Ouvindo o disco novo em segundo plano aqui agora, dá pra perceber que a influência de música eletrônica é grande mesmo. Tá tudo bem dançante.
Pedro: O disco faz parte dessa fase em que a gente começou a ouvir música eletrônica. E aí veio o Alex, que é produtor de eletrônico, e tudo casou no momento certo.
Tché: A influência foi muito mais do Alex. Ele é um cara muito rítmico.
Rola: A gente fez um processo diferente, porque uma banda normalmente vai do metrônomo, começa a gravar a bateria, aí vem o baixo e todas as outras coisas. O Alex fez diferente, ele ouviu as nossas demos, sacou o BPM, construiu a batida e falou: “é isso”. Então a gente não gravou em cima de metrônomo, a gente começou com guitarra e baixo, foi bem diferente. E isso deu essa cara mais eletrônica, porque a gente não ficou preso à bateria, nem nada.
O mais legal é que isso deve contribuir pra uma atmosfera bem diferente pro show novo, certo? Esse background eletrônico faz a apresentação parecer mais festiva?
Tché: Sim, e as composições também estão mais soltas, mais quebradas, são mais acordes e tal. O Sunga era mais rock, e lógico que ainda tem rock aqui. Oouquíssimo, mas… sei lá, nem sei o que é rock mais. O que é rock? Quem sabe?
Rola: Pois é, é aquela história… eu só acho que a gente é indie porque a gente não fez muito sucesso, tá ligado? Se não a gente não seria. Porque o “indie” ao mesmo tempo é tudo e não é nada, qualquer coisa pode ser indie. A gente é indie e a Mallu Magalhães também é indie, viu o contraste?
Pata: E a Mallu Magalhães é uma gata.
Querem acrescentar algo à entrevista, que talvez eu não tenha perguntado?
Pata: Esse álbum tinha que ser a melhor coisa que fizemos, ou não valeria mais a pena fazer música. A gente tinha isso na cabeça, poderíamos fazer alguma coisa que ficasse no mesmo nível ou atrás do Sunga, ou produzir algo muito melhor e ter ainda mais tesão de tocar. A gente se arriscou no português, arriscou colocar sopros, meninas cantando, flertamos com o eletrônico… quisemos nos arriscar e ser sincero no que a gente tá arriscando. Vamos trabalhar pra lançar entre junho e agosto e não sabemos como a galera vai receber, porque ele é mesmo muito diferente. Espero que recebam bem, mas se não for a gente já tá bem feliz e orgulhoso de ter feito ele.

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Foto depois da festa.