Dinho Ouro Preto se divide em dois para tocar o Capital Inicial e lançar um disco solo:
RIO - Um um belo dia de agosto de 2011, Dinho Ouro Preto, cantor do Capital Inicial, estava visitando a sede de sua gravadora, a Sony, no Rio, quando enxergou uma janela de oportunidade:
— Entrei na sala do meu diretor artístico, Bruno Batista, e perguntei a ele se poderia gravar um disco solo, de covers, em inglês — lembra o cantor, no lugar onde tudo aconteceu, em Botafogo. — O disco seguinte do Capital só sairia um ano depois, e eu há tempos tinha a vontade de gravar um disco meu, fazendo tudo do meu jeito. Para que não ficasse parecido com o que já faço na banda, tive a ideia de gravar músicas de outros autores, em inglês, em um formato de voz e violão.
Primeira mentira. Depois, ele ainda prometeu a Bruno que em um mês tudo estaria gravado.
— Seria moleza, eu e um cara para tocar o violão, músicas que conheço bem... Pois é, levei seis meses.
O repertório de "Black heart", que está chegando às lojas, até que não foi problema.
— Naquela primeira conversa, pensei em bandas dos anos 1980, como o Cure, os Smiths e Nick Cave, em músicas um pouco mais lentas, introspectivas — conta ele. — Logo surgiram "Lovesong", do Cure, e "There is a time that never goes out", do Morrissey (ex-cantor dos Smiths). Aí, resolvi gravar músicas de várias décadas, nesse mesmo clima. Então, vieram "Suspicious minds", do Elvis (dos anos 1960), "Dancing barefoot", da Patti Smith (anos 1970), e as mais recentes, como "Steady as she goes", dos Raconteurs (2006) e "Time is running out", do Muse (2003).
Além das semelhanças estilísticas das músicas, mais introspectivas do que o rockão que ele costuma cantar, Dinho vê outras características em comum:
— São todos grandes letristas: Leonard Cohen, Morrissey, Patti Smith, Nick Cave... A música de Cave, "Are you the one that I’ve been waiting for?", é a minha favorita. E é o único com quem já toquei: quando ele morava em São Paulo, no começo dos anos 1990. Ele promovia noitadas de rock movidas a álcool e cocaína na casa dele.
Ele também reparou que a maioria dos artistas que gravou são independentes.
— É curioso, e reforça essa cara de lado B do disco.
Muito bem, a escolha das músicas foi divertida e rápida. Mas, na hora de ir para o estúdio...
— Eu achava que teria mais tempo, mas o Capital toma muito da minha agenda — conta ele. — A banda não para nunca, nem quando está gravando. Só parou, por seis meses, quando eu caí do palco (em um show em Poços de Caldas, em outubro de 2009, lesionando seis vértebras e sofrendo traumatismo craniano) e não podia cantar.
A agenda deixou menos tempo para que Dinho e o produtor David Corcos — responsável pelo último disco do grupo, "Das Kapital", e pelo próximo — cuidassem do disco. O violão que seria a única companhia da voz foi sugestão de Corcos: Eduardo Bologna, virtuose e rato de estúdio em São Paulo que acompanhou Lobão em seu premiado "Acústico MTV".
— Ele veio à minha casa e tiramos as 12 músicas — lembra Dinho. — Mas aí começamos a achar que outros instrumentos poderiam entrar, e o disco foi ficando demorado, dispendioso, internacional...
A cantora Lisa Papineau, da banda indie americana Big Sir ("precisava de uma mulher que cantasse em inglês sem sotaque", diz Dinho), e o tecladista Koool G Murder, músico de estúdio em Los Angeles, gravaram suas partes nos EUA e as enviaram pela internet.
— Para quem começou gravando cassetes, isso é muito Jetsons, né? — brinca Dinho.
Projetos dividirão a semana
Tudo isso aconteceu enquanto o Capital viajava, tocava no Rock in Rio...
— Foi uma loucura, e deve piorar — diz o cantor.
De fato: em abril e parte de maio, Dinho será ele mesmo de segunda a sexta e cantor do Capital nos fins de semana; a partir daí, ele começará a ensaiar e gravar o novo disco do quarteto; depois, Dinho passa a fazer shows solo às quintas e domingos, deixando sextas e sábados para o Capital.
— Tinha que ser agora — suspira ele. — Ainda sinto dores na coluna por causa do acidente, e vou fazer 48 anos em abril. Daqui a alguns anos, talvez não fosse possível.
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