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segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Festival Paredes de Coura: a reportagem do último dia do evento

Festival Paredes de Coura: a reportagem do último dia do evento:

A 19ª edição do festival Ritek Paredes de Coura chegou ao fim num dia repleto de concertos, divertimento, jogos de futebol e ameaças de chuva. Queimaram-se os últimos cartuchos em tudo o que foi possível e completou-se, assim, mais um ano de um festival de sucesso.

Pelo campismo desfrutam-se as ultimas refeições e as conversas com a vizinhança do acampamento; pelo rio dão-se os últimos mergulhos e houve até quem perdesse o medo e saltasse da mítica árvore para o rio. Por lá também estiveram, novamente, Erlend Oye e Eirik, que deram as últimas braçadas despedindo-se daquele que foi considerado, por eles, um festival paradisíaco.

Governo

A tarde fez-se acompanhar pelos Governo, banda bracarense que se juntou em 2009 com valter hugo mãe, António Rafael e Miguel Pedro. António e Miguel dedicam-se a tocar múltiplos instrumentos, já hugo mãe escreve e canta as músicas. Um fim de tarde em tom de despedida daquele palco, que todos os anos faz a banda sonora dos dias de verão passados no Rio Taboão.

Já no recinto, passaram, pelo Palco JN, os Sidewalkers e Cavalheiro, que veio a Paredes de Coura apresentar o seu projecto. Um bocadinho mais abaixo, já muitos eram aqueles que reservavam lugar na primeira fila para assistirem ao concerto de Linda Martini, que voltaram ao festival após terem actuado na edição de 2007.

Linda Martini

Os Linda Martini, nome forte do rock português, são presença habitual em festivais de verão. Com eles trouxeram uma multidão de fãs, pois nunca àquela hora estiveram tantas pessoas a assistir a um concerto.

No palco, um tríptico pendurado com a imagem de um rodapé de uma casa antiga, ou mesmo de uma Casa Ocupada, ilustra o palco onde André, Cláudia, Hélio e Pedro dão um concerto poderoso.

Cláudia, agressiva e com postura de rocker, arrasa os corações de todos os seus fãs. Prova disso foram os cartazes com frases bonitas em sua honra. Já Hélio, a quem "o medo (também) não assiste", que andava de moletas ainda há um mês atrás, mostrou-se rijo.

Lá à frente e um pouco por toda a área do palco principal, dançavam os corpos à medida em que a música ia surgindo. Pelo meio, "Amor Combate" e "Dá-me a tua melhor faca" foram cantadas em coro, antes de se ouvir "Juventude Sónica" que intensificou a euforia e a permanência do crowdsurf. A fechar, ouviram-se os fantásticos singles "Belarmino" e "Cem Metros Sereia".

Kurt Vile

Kurt Vile não se apresenta sozinho em palco, mas fez-nos, por momentos, crer que sim. Apresentou-se sozinho, mas, após a primeira música, juntaram-se a ele o guitarrista e o baterista. Sempre com uma postura meia curvada, que faz o cabelo esconder grande parte da sua cara, Kurt Vile apresenta-se dizendo que este é o primeio concerto da sua actual tour.

O calor era imenso, um efeito quase de estufa fazia-se sentir dentro da área do palco secundário, mas nem isso foi suficiente para desviar a atenção dos que por lá passaram e ouviram, com muito respeito, a música deste norte-americano.

No palco, para além da postura e presença de Vile, o baterista era quem sobressaía, pela originalidade com que tocava o seu instrumento. Sempre com um sorriso tímido, Kurt Ville agradece as palmas calorosas do público que contempla, dizendo: "You guys are sweet".

Maika Makovski

Ainda Kurt Vile estava no palco 2 e já Maika Makovski, cantora macedónica que veiosubstituir os americanos Foster The People, cantava a segunda música do alinhamento.

Num concerto em que a maioria do público assistiu sentado, houve alguns que se renderam ao mood indie-rock desta cantora e compositora.

Mesmo sabendo que muitos que ali estavam não a conheciam e que, na verdade, desejavam ver os Foster The People, Maika mostrou-se cheia de pujança e fez a festa para aqueles que à frente do palco dançavam e aplaudiam.

Viva Brother

Os britânicos Viva Brother são quatro: Leonard Newell, Joshua Ward, Samuel Jackson e Franklin Colucci, que descrevem o seu som como "Grit-pop", tendo como principais referências musicais os Blur, Stone Roses e The Smiths.

Bem junto às grades muitos eram os fãs que dançavam desenfreadamente ao som dos Viva Brothers, mas, quando nos deslocámos até ao palco principal, percebemos que não eram assim tantas as pessoas a assistir a este concerto. Muitas encontravam-se espalhadas pela zona de alimentação e pelo franchising do festival; outras, quase a maioria, aguardavam os Two Door Cinema Club; e, pelo caminho, mais uns quantos de olhos postos no jogo Benfica-Feirense, que o JN fez questão de proporcionar aos que por ali passavam.

Contudo, a banda de Slough, que não se deixou levar pela fraca audiência, deu o seu melhor, na sua estreia em Portugal, fazendo mexer aqueles que ali estavam para dançar.

Two Door Cinema Club

Por aqui avistou-se muita gente, naquele que foi o primeiro concerto dos irlandeses no norte do país (a banda irlandesa esteve em Lisboa no dia 26 de Maio).

Os Two Door Cinema Club não deixaram margens para dúvidas: com um grande pano e letras proposicionais, tinham escrito o nome da banda bem visível. No lugar dos dois "o" estavam dois olhos de um gato.

Surpresa das surpresas foi a quantidade de gente que se contagiou com a sua música. Sabemos que, em parte, a popularidade desta banda surgiu devido a uma publicidade, que fez uso da "I Can Talk" - aquela música que fica presa no ouvido e que, no recinto, fez aquecer todos que por lá estavam. O mesmo aconteceu com "What You Know" e "Something Good Can Work".

A assistência estava receptiva, como sempre - o público português, quando gosta, gosta mesmo - e Alex Trimble, vocalista, percebeu isso. Como agradecimento à entusiasta recepção da banda no festival, Alex apresentou o novíssimo "Sleep Alone".

No Age

Com Two Door Cinema Club quase no final, os No Age já provocavam um mosh absurdo num espaço tão pequeno. A banda do mítico Sub-Pop, dona de uma sonoridade lo-fi experimental e estridente, voltou a Portugal para um concerto muito aguardado.

Embora a sonoridade dos americanos seja propositadamente de "baixa fidelidade", não justifica a fraca qualidade sonora que, infelizmente, foi quase permanente no palco 2.

A dupla de Los Angeles deixou bem claro que não é preciso muito para fazer barulho, muito barulho. A potência foi tal que na segunda música já Randy Randall tinha partido uma das cordas. O conta-tempo proporcionou momentos escassos de acalmia mas, na verdade, o concerto foi todo ele agressivo. Prova disso foi o auge atingido pela música "Fever Dreaming".


Mogwai

Os Mogwai são um forte nome do movimento do post-rock escocês. Mogwai surge do nome de um dos personagens de "Gremlins", de 1984, realizado por Steven Spielberg. Neste festival, a banda de Glasgow concentrou-se no último trabalho "Hardcore Will Never Die, But You Will".

Mergulhados numa ambiência azulada, os Mogwai criaram um estado especial quase no final de mais uma edição de Paredes de Coura. No céu, avistavam-se constelações em perfeita harmonia com a música e o público, que, embora tenha estado quase petrificado, não tirou os olhos do palco. Assistir a um concerto de Mogwai é quase como sentirmo-nos numa viagem intemporal, onde a estada é recta e infinita e onde a vontade de encontrar um destino é nula. O concerto em si foi permanente, não existiram momentos fortes ou marcantes, o registo manteve-se o mesmo do início ao fim, acompanhado de uma repetitiva frase "Obrigada, thank you, cheers".

À parte disto, salienta-se o lado cósmico da música que sonorizava as projecções abstractas e figurativas de um filme que se poderia julgar imaginado. Os Mogwai, que se mostraram de poucas palavras, reconheceram, ainda assim, que foi mais divertido este concerto do que o de há 12 anos atrás, exactamente no mesmo espaço.

Death from Above 1979

A dupla de stoner rock oriunda de Toronto apresentou-se pela primeira vez em Portugal no ano de 2005, no mesmo lugar onde no Sábado fez vibrar um público inquieto. Em 2005, poucos eram aqueles que tinham ouvido falar dos DFA 1979. No entanto, passados seis anos, e quando se achava que a banda tinha terminado, o duo voltou, inesperadamente, para um concerto arrebatador na 19ª. edição do festival Ritek Paredes de Coura.

A banda, composta por Jesse F. Keeler e Sebastien Grainger, agitou o Minho com aquele que seria o concerto mais esperado do dia, e, para muitos, de todo o festival. Quem esteve na zona onde o mosh, o crowdsurf e o circle pit se formaram, sabe bem que este foi dos concertos mais agitados e com maior concentração de moshing de todo o festival. Não é que isso seja realmente importante, é apenas factual.

Pelo meio, Grainger, com a sua franja comprida que lhe tapa os olhos, agradece a forte e excitante recepção por parte do público, avisando aqueles que se demonstraram mais descontrolados, com a frase em tom de piada: "não façam mal às meninas ou eu vou aí abaixo e violo-vos".

Mesmo com tanta confusão e a brusca fusão entre bateria/baixo, houve espaço para se ouvir os refrões cantados pelos fãs que gritaram até ficarem sem voz. Com apenas um álbum de originais e um EP ("You're a Woman, I'm a Machine" e "Heads Up", respectivamente), a banda deu tudo o que tinha sem nunca perder o ritmo em músicas poderosas como "Too Much Love", "Romantic Rights" e "Black History Month". Pelo meio já se tornava difícil contar o número de pessoas que mergulhavam pelo mosh e emergiam no crowdsurf. Alucinante ver aquilo tudo.

O final do concerto ficou marcado por um encore, no qual houve apenas lugar para duas músicas, "If We Don't Make It, We'll Fake It" e "Losing Friends", que encerraram mais um Paredes de Coura.

Pela noite dentro a festa foi garantida com a presença dos Orelha Negra e de Terry Hooligan vs Rico Tubbs, que ajudaram os festivaleiros a dizer adeus a mais um festival de verão.

Texto: Anas Limão

Fotografias: Filipa Oliveira

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6º ARCA DO ROCK

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Foto depois da festa.