Os atentos às notícias musicais já devem ter percebido que estamos vivenciando um revival do rock alternativo dos anos 90. Dave Grohl e Krist Novoselic reuniram-se para gravar com o produtor de Nevermind, Butch Vig; o Pearl Jam está ganhando um filme pelas mãos de Cameron Crowe, diretor de Singles; o Smashing Pumpkins vai relançar seus álbuns clássicos e até o Soundgarden voltou aos estúdios, para gravar um álbum inédito.
O Pixies, também pioneiro do rock alternativo, tem desfrutado de muito sucesso nos últimos anos. Depois de dez anos separados, a banda retornou aos palcos em 2004. Desde então, Black Francis (vocalista, cujo nome real é Charles Thompson), Kim Deal (baixo), Joey Santiago (guitarra) e David Lovering (bateria) estão em turnê, que passou pelo Curitiba Pop Festival (2004) e pelo SWU (2010).
Até o momento, a banda não divulgou planos de gravar um novo álbum. Em uma longa entrevista ao Spinner, Santiago e Lovering revelaram que um dos motivos para isso é o medo de que as novas criações não estejam à altura dos dicos anteriores.
"Estávamos felizes apenas de sair em turnê, e não conseguimos mais parar porque as pessoas querem nos ver tocar. Já falamos sobre isso há anos, mas ainda não pensamos em nada", declarou o guitarrista.
"Vou responder isso honestamente", continuou Loverind. "No fundo, acho que temos medo que isso pode causar problemas. Certo? Você não acha? Pode causar, e é esse 'pode' que vai nos levar a pensar 'o que fizemos'? O processo de entrar em um estúdio e gravar alguma coisa... Aaprendendo coisas novamente. Faz muito tempo que não fazemos isso".
"O negócio é o seguinte, queremos proteger nosso legado. Se fizermos alguma coisa, tem que soar bem. Conforme o tempo vai passando, e já faz sete anos, fica mais difícil tomar essa decisão. [...] Há perigo ali, eu não sei se pode existir triunfo. Uma vez que o fizermos, quem sabe? Mas eu acho que [essas dúvidas] fazem música boa. Do tipo 'ah é? Não quero saber, vamos tocar'! Essa angústia é boa", explicou Santiago.
O guitarrista também falou sobre a separação da banda, causada pelo infame comunicado de Francis via fax. "Eu cheguei a pensar 'e se Charles não tivesse terminado a banda?'. Se ele tivesse apenas dado um tempo, enquanto ia explorar suas coisas e nunca tivesse dito nada sobre nosso término... Se ele tivesse apenas dito "estou tirando férias muito longas'... Depois, todos teriam pensado 'aquilo que era química', e cinco anos mais tarde nós teríamos feito aqueles dois álbuns que estávamos obrigados contratualmente a fazer. [risos] Mas não podemos pensar nisso", comentou, nostálgico.
Outro assunto discutido na entrevista foi o papel influenciador do Pixies na música, que ao lançar Come On Pilgrim (1987), Surfer Rosa (1988) e Doolittle (1989), participou do movimento que trouxe uma nova sonoridade, que posteriormente se desdobraria no grunge e outros subgêneros do rock alternativo.
"Nós não pensamos muito nisso. A verdade é que todos são influenciados, então nós somos apenas um dos sortudos nos quais as pessoas buscam inspiração. [...] A moda é o momento e isso é parte do rock 'n' roll. Eu me lembro que Charles sempre usou aquela camiseta de flanela, e eventualmente as pessoas começaram a usar. Fizemos parte disso. Musicalmente? As pessoas estavam ficando cada vez mais aventureiras na época, mais 'alternativas'. Inovadores? Hüsker Dü e REM já existiam, então apenas continuamos daquele ponto, mas certamente aquilo se tornou mais popular. Acabou explodindo", declarou Santiago.
"E sempre vai ser assim. Jay-Z vai ser "clássico" um dia", completou Lovering.
O guitarrista e o baterista também comentaram o primeiro show que reuniu a banda, no festival Coachella de 2004, e sua atual plateia, muito jovem para ter escutado Pixies originalmente. "Nossos álbuns sairam quando algumas daquelas crianças não tinham nem nascido e eles estavam cantando junto conosco no Coachella. Foi chocante", disse Lovering.
"A quantidade de pessoas que estavam apenas prestando atenção enquanto tocávamos... Quando olhamos para o lado do palco, vimos Red Hot Chilli Peppers, PJ Harvey, Radiohead apenas nos observando. Eu pensava comigo 'não vou olhar para vocês, essas 70.000 pessoas são mais reconfortantes'. [...] É bem legal ter jovens vindo aos nossos shows. A partir de que idade será que começam a ouvir Pixies? Acho que é desde quando chegam na faculdade, pelas estações de rádio universitárias. Essa é uma época em que as pessoas estão tentando explorar o mundo de uma maneira diferente. Eu acho que somos uma daquelas bandas que são marcos de quando as coisas eram diferentes, quando as coisas mudaram. Fomos grande parte disso. [...] A razão pela qual os atuais jovens 'alternativos' gostam da gente é porque fomos parte daquela história. As bandas que eles gostam agora, meio que sabem que foram influenciadas por nós. Sorte que ainda somos relativamente novos e eles ainda podem nos ver tocar", declarou Santiago.
Para encerrar a entrevista, os dois falaram sobre o futuro do Pixies. 'Temos que nos planejar para fazer algo novo', afirmou o baterista.
"Aquela conversa de fazer um álbum estará em primeiro plano. Definitivamente nos consolidamos como um grupo e espero que quando tivermos esquecido tudo o que aconteceu, talvez voltemos para o estúdio e dê tudo certo. Até o Bono disse 'por favor, façam um novo álbum!' E eu acho que devemos fazer, mas isso não depende só de mim", finalizou Santiago.
Fonte: Omelete
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