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terça-feira, 24 de maio de 2011

Pisando em solo sagrado: John Fogerty ao vivo

Pisando em solo sagrado: John Fogerty ao vivo: "

Creedence Clearwater Revival


Nunca escrevi uma linha sobre o Creedence Clearwater Revival. Seria como escrever sobre o prazer de sentir o calor do sol ou de olhar minha mãe. Está além das minhas forças.


O Creedence esteve sempre comigo. Na minha casa quase não se ouvia música, a não ser no rádio da cozinha, que ficava ligado o dia todo. Rádio Educadora? Não existia rádio FM, rede via satélite, estratégia de programação. O que a Cleusa, a Sônia e a dona Belica ouviam o dia todo, todos aqueles anos? Muito Roberto Carlos.


O resto, só me lembro de música em inglês. Hits do momento - Yellow River, Push Together. E rock: Beatles e Creedence Clearwater Revival.


Eu conhecia os Beatles. Vi Yellow Submarine no cinema, muito pequeno. Os Beatles eram complicados. As músicas eram bem diferentes umas das outras; só encontrei o fio da meada bem depois, aos dez anos, quando ganhei as fitinhas de Revolver e Oldies But Goodies.


O Creedence eu reconhecia, sem saber o nome da banda. Tocava sem parar no rádio. Have You Ever Seen The Rain, impossível não conectar uma música na outra. A voz de John Fogerty e seu timbre de guitarra foram as primeiras coisas que identifiquei como rock.


E aqui estou eu no dia seguinte de um show de John Fogerty. Foram doze horas ou quarenta anos atrás que vi John pular com a agilidade de um moleque, cantar com fervor sagrado e tocar como se possuído por demônios das profundezas da América?


John, 65, pinta o cabelo e tem poucas marcas da idade. Usava a velha camisa xadrez. Tinha igual para vender no stand de merchandising. Tinha uma camiseta escrita John Fogerty Wrote This Song. Eu devia ter comprado.


Foi a performance de John ou minhas memórias tão antigas, afetivas, sensoriais? Foi o whisky e a cerveja? A animação da banda, claramente orgulhosa de apoiar uma lenda, com o craque Kenny Aronoff na bateria? O repertório foi inacreditável - como descrever um show que começa com Hey Tonight e acaba com Proud Mary? Não foi um espetáculo, foi uma cerimônia.


John Fogerty ao vivo é território sagrado. Como compreender um cara que compôs pelo menos 20 clássicos intocáveis em três anos, e depois passou 15 anos sem tocar nenhum? Como entrar na cabeça de um cara que tocou em Woodstock, mas não liberou o show para entrar no documentário, porque julgou sua performance morna? Como explicar o que ele significou, tanto tempo atrás, para uma criança em Piracicaba?


O prazer foi redobrado porque vi o show na companhia de um velho amigo, tão fã de Creedence quanto eu. Meu camarada já viu um milhão de shows na vida e soltou no final: foi dos melhores shows que já vi na vida. Melhor, nunca vi. O ingresso é caro? Roube alguém na rua.


Jornalista, começou o show e eu já ia escrevendo mentalmente meu artigo. Daria para sustentar uma boa tese: a de que o Creedence foi a banda que encontrou a perfeita harmonia entre o rock dos caipiras negros e o rock dos caipiras brancos.


As covers clássicas dizem tudo, Suzie Q e Pretty Woman e Good Golly Miss Molly e I Put a Spell On You, Dale Hawkins e Roy Orbison e Little Richard e Screaming Jay Hawkins.


E aí meu amigo e eu entendemos por que o Brasil nunca teve nem terá nada parecido com Chuck Berry ou John Fogerty, e aí nas primeiras notas dessa música aí embaixo fiquei arrepiado de alto a baixo e decidi: dane-se a matéria.


Não tenho nada a dizer sobre John Fogerty que ele não tenha dito melhor, mais alto e muito antes; e se você não ama o Creedence Clearwater Revival, não tenho nada a te dizer.



Born on the bayou. por thevideos no Videolog.tv.


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