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sábado, 8 de janeiro de 2011

Joy Division-Da morte à Vida

Joy Division-Da morte à Vida: "


Joy Division e New Order: da morte à vida; do rock gótico ao acid house
Mãe, eu tentei, por favor acredite
Eu estou fazendo tudo o que posso
Eu tenho vergonha das coisas pelas quais passei
Eu tenho vergonha da pessoa que eu sou”


Tradução livre (“Mother I tried please believe me/ I’m doing the best I can/ I’m ashamed of the things I’ve been put through/ I’m ashamed of the person I am”) da canção “Isolation” (1979), da banda Joy Division
Escreve Helena Uehara, autora de Joy Divison / New Order – Nada é mera coincidência: “18 de maio de 1980. Após assistir ao filme Stroszek, do alemão Werner Herzog, o seu diretor de cinema preferido, matou-se ao som de The Idiot [álbum de 1977], de Iggy Pop. Deixava um bilhete que dizia: ‘Nesse exato momento, eu queria estar morto. Eu simplesmente já não aguento mais’. (...) Um único e definitivo gesto, mudando o destino e a história de uma banda para sempre. Seu nome: Ian Curtis – vocalista e letrista do Joy Division”.

A morte de Ian Curtis pegou todos de surpresa. Seus companheiros de banda, Bernard Sumner (guitarra), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria) sabiam dos problemas pessoais do cantor – uma crise no casamento, causada pelo envolvimento de Ian com uma fã; a dependência das drogas e do álcool; a dificuldade de lidar com o sucesso meteórico do Joy Division, e a epilepsia, que o fazia se sentir infeliz e inferior aos demais –, mas nunca pensaram que ele poderia chegar ao extremo do suicídio. Ian Curtis contava 23 anos quando foi encontrado pela esposa, Deborah, enfocardo na cozinha de sua casa, um dia antes de partir para uma turnê nos EUA, que garantiria o sucesso da banda na América.

Tudo começou em 1977, quando Bernard Sumner, Peter Hook e Terry Mason, que viviam na proletária Manchester, saíram de um show da famosa banda de punk rock Sex Pistols decididos a fazer música. Posteriormente, Mason se tornaria empresário e road manager do conjunto, que precisou de um novo baterista, Stephen Morris. As letras e vocais couberam a Ian Kevin Curtis. Hook se recorda da formação do grupo, no final da década de 70, durante a efervescência do movimento punk inglês: “Eu e Barney [Bernard Sumner] estudamos juntos desde os 11 anos de idade. Conseguimos Stevie [Stephen Morris] através de um anúncio e costumávamos encontrar Ian nos shows, era um rosto constante nos shows, frequentávamos os mesmos lugares”.

Foi assim que surgiu o Warsaw – nome inspirado na música “Warszawa” , lançada por David Bowie naquele mesmo ano no disco Low. No ano seguinte, era lançado o primeiro álbum de uma banda de Londres chamada Warsaw Pakt, o que obrigou o conjunto a mudar a mudar de nome para evitar confusões. Nascia assim, o Joy Division, A Divisão da Alegria, nome retirado do livro The house of dolls, de Karol Cetinsky que narra uma história passada durante a II Guerra Mundial. A Divisão da Alegria era uma ala de um campo de concentração em que as prisioneiras judias eram obrigadas a se prostituírem como escravas sexuais dos oficiais nazistas.

O nome foi sugerido por Ian Curtis, que tinha uma quase obsessiva admiração pela cultura alemã, em especial símbolos do regime nazista, o Novo Cinema Alemão, de cineastas como Herzog e a música de vanguarda que estava sendo produzida naquele país, no final da década de 70. Peter Hook observa que, apesar de o Warsaw ter uma orientação punk, inspirado no som de David Bowie, Velvet Underground e Iggy Pop, naquela época, Curtis começou a se interessar pela nascente música eletrônica do Kraftwerk. O grupo germânico, considerado fundador do tecnopop, foi inspiração para que nos dois únicos álbuns lançados pelo Joy Division, Unknown Pleasures (1979) e Closer (1980) fossem incluídos a bateria eletrônica e o sintetizador, que permitiram efeitos sonoros que sugeriam atmosferas angustiantes e claustrofóbicas, além de gritos abafados e ecos guturais.

Se Ian se interessou pelas obras do Kraftwerk, principalmente o álbum Autobahn (1974), que simulava uma viagem de carro pelas vias expressas alemãs, e passou a influenciar os demais membros do Joy Division, os recursos eletrônicos depois iriam dominar a sonoridade do New Order, banda formada pelos integrantes remanescentes, após o suicídio de Curtis.

O fascínio por temas nazistas, sons que sugeriam atmosferas ao mesmo tempo oníricas e industriais – a título de curiosidade, o nome Kraftwerk, banda do Vale do Ruhr, zona fabril alemã, pode ser traduzido como Usina da Força ou Complexo Elétrico – e a admiração por Iggy Pop, um ícone do punk, que abria cortes nos braços e rolava em cacos de vidro durante apresentações com a sua banda, The Stooges, demonstrava que o vocalista do Joy Division tinha interesse por temas sadomasoquistas, em que as fronteiras entre dor e prazer eram tênues. Mais tarde, sua esposa, na biografia do cantor, Touching from a distance (ainda sem tradução no Brasil) escreve relatos de autoflagelação: “As drogas que tomavam obliteravam-lhe os sentidos. (...) Ian costumava frequentemente infligir dor em si mesmo para ver o quanto aguentava naquele estado anestésico. Utilizava cigarros para queimar a pele e batia nas pernas com sapatos de corrida”.
Essa combinação de elementos, somados à fantasmagórica voz de Curtis, as guitarras de Sumner, que parecem chorar, e a bateria de Morris, que invoca marchas militares, acabaram por criar uma das maiores expressões do chamado rock gótico (que junto da new wave, formaram o chamado post punk) e de toda a música. Ouvir o Joy Division é penetrar num mundo criado por Ian Curtis, e suas atmosferas enevoadas e sinistras. Suas letras revelam uma personalidade que procurava, através da dor, das drogas e da música, se auto-punir pela epilepsia, pela frieza com a esposa e a filha Natalie, recém-nascida; ao mesmo tempo, em canções como “Twenty four hours” de Closer, o letrista parece ter noção de seu estado psíquico e emocional: “Agora que eu percebi que tudo deu errado/ Preciso de terapia, e esse tratamento será longo demais./ (...)/ Preciso achar meu destino, antes que seja tarde demais”. (Tradução livre para “Now that I’ve realised how it’s all gone wrong,/ Gotta find some therapy, this treatment takes too long./ (...)/ Gotta find my destiny, before it gets too late”.) Ao que parece, contudo, o destino de Curtis era adentrar a eternidade, como protagonista de uma das mais trágicas histórias do rock.

Após o lançamento de Unknown Pleasures, pela Factory Records, de Manchester, o conjunto ganhou projeção nacional, tocando em importantes programas de rádio da BBC, principal emissora inglesa. O disco, produzido por Martin Hannett, foi um sucesso entre a crítica e no fim de 1981, alcançou a cifra de cem mil cópias vendidas. A arte da capa, de Peter Saville – que passou a ser colaborador fixo do Joy Division, e posteriormente, do New Order – foi uma dos precursores do minimalismo, corrente estética derivada da PopArt. Sobre um fundo negro, um relevo representa as ondas emitidas pela primeira pulsar – estágio em que uma estrela, mesmo morta, ainda produz uma frequência – descoberta por astrônomos. A sugestão foi de Bernard Sumner, que havia visto a imagem em uma enciclopédia de Astronomia.

O crítico francês Michka Assayas, porém, faz uma leitura positiva da atmosfera deprimente do primeiro álbum do Joy Division. Em resenha publicado em 1981, o jornalista escreveu: “Unknown Pleasures nos faz acreditar que ainda há alguma esperança, que é possível encontrar pessoas que não suportam a preguiça e indiferença alheia e que desenvolvem uma força interior quando confrontados com as desgraças da vida”. Assayas, assim, defendia que ao ser assumidamente triste e mórbida, a banda de Ian Curtis protestava contra a música do final da década 70, chamada pelo crítico como “valium musical” por ignorar completamente os anseios de uma juventude insatisfeita com os rumos políticos da Inglaterra de Thatcher. O texto também destaca o talento de Curtis ao iniciar o álbum com o verso “Eu estou esperando por guia que venha e me tome pela mão” (“I’ve been waiting for a guide to come and take me by the hand”) – da canção “Disorder” – , como símbolo de toda uma geração que se sentia perdida e sem rumo, esperando que um líder lhes indicasse um novo caminho a seguir.
Porém é com o álbum seguinte, Closer, ainda mais soturno e triste é que o Joy Dvision será para sempre lembrado como uma das mais importantes bandas do rock gótico. O segundo e último álbum da banda foi um estrondoso sucesso, chegando a ser o sexto mais vendido no Reino Unido, em 1981, e até hoje é citado em diversas listas como um dos melhores de toda a história da música. Sua sonoridade apresenta evoluções em relação ao seu antecessor e a principal diferença entre esse disco e Unknown Pleasures é a sofisticação que o produtor Martin Hannett empregou em cada instrumento isoladamente, um explícito desvio da fórmula punk. O resultado final é ainda mais claustrofóbico, mais austero, sombrio e deprimente. A utilização de sintetizadores e teclados na estrutura das músicas, sobretudo em “Isolation”, “Twenty Four Hours” e “Decades” também dá indícios de que o som do Joy Division, independentemente da permanência de Curtis, tornaria-se, mais tarde, similar ao que foi produzido pelo New Order.

O crítico Bruno McDonald observa que “ainda que o álbum de estreia, Unknown Pleasures, olhasse fundo para o abismo, era apenas música”. Em Closer, as letras de Curtis também tornam-se mais intensas, duras e amargas e são várias as referências a temas mórbidos, e mais especificamente, ao suicídio, sendo possível assim, notar que não há mais uma diferença entre o eu-lírico e os dramas pessoais do vocalista. A primeira referência à morte está na capa do álbum - uma foto do mausoléu da família Appiani, do Cemitério Monumental de Staglieno, em Gênova, na Itália –, concebida pelos artistas gráficos Peter Saville e Martyn Atkins, antes mesmo de ouvirem qualquer uma das faixas do novo disco do Joy Division, mas que, curiosamente, o imaginaram como a trilha sonora de um funeral.

Aliados ao suicídio de Ian Curtis, fato adiou em dois meses o lançamento de Closer, esses elementos acentuaram a atmosfera soturna e mística que envolveu o álbum, que ainda segundo McDonald, pode ser ouvido como “um amargo bilhete suicida”. Em 1994, o dono da Factory Records, Tony Wilson comentou sobre o disco: “É como se compô-lo tivesse piorado seu estado: deixou-se estragar por ele, em vez de apenas expressá-lo”.

Porém, antes de se matar, Curtis ainda teve tempo de gravar a canção que, provavelmente, é a mais popular do Joy Division. “Love will tear us apart”, além de representar a maturidade sonora da banda, é um bom exemplo da lírica dolorida do vocalista, que embora densa, ainda rendia refrões característicos da música comercial executadas em rádios FM. É nessa faixa que fica clara a maneira do letrista enxergar o mundo, e principalmente as relações interpessoais. “Quando se está apaixonado a tendência natural é querer estar junto à pessoa amada. No entanto, o amor é aquilo que os separa. (...) Para Ian Curtis, todo sentimento é dor, sobretudo o amor. (...)Ian precisa se ferir até sangrar para sentir que existe qualquer tipo de sentimento”, explica a autora Helena Uehara.

Assim é possível afirmar que a discografia do Joy Division, sobretudo pela lírica de seu vocalista, Ian Curtis, é um paradigma na principal dicotomia da música dos anos 80: a tênue fronteira entre o amor e a morte.

Texto e fotos retirados de: Jorwiki USP
...::: THE BEST OF JOY DIVISION :::...
2008
Disco 1:Digital
Disorder
Shadowplay
New Dawn Fades
Tansmission
Atmosphere
Dead Souls
She's Lost Control
Love Will Tear Us Apart
These Days
Twenty Four Hours
Heart and Soul
Incubation
Isolation

Disco 2:
Exercise One (John Peel Show 31-Jan-79)
Insight (John Peel Show 31-Jan-79)
She's Lost Control (John Peel Show 31-Jan-79)
Transmission (John Peel Show 31-Jan-79)
Love Will Tear Us Apart (John Peel Show 26-Nov-79)
Twenty Four Hours (John Peel Show 26-Nov-79)
Colony (John Peel Show 26-Nov-79)
Sound of Music (John Peel Show 26-Nov-79)
Transmission (Recorded live for Something Else 4-Sept-79)
She's Lost Control (Recorded live for Something Else 4-Sept-79)
Ian Curtis And Stephen Morris Interviewed By Richard Skinner
...::: DOWNLOAD :::...

-------------------
...::: LOVE WILL TEAR US APART :::...
Vinyl 2009
Lado A:
Love Will Tear Us Apart
(Alternate Version)

Lado B:
Transmission
(Alternate Version)




...::: DOWNLOAD :::...
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Foto depois da festa.